A Única Condição (p. 5)

 

CONVITE À MUDANÇA

Direi, agora, o que você já deve ter ouvido antes alguma vez na vida: se quiser o novo, precisa do novo.

Você sabe que é na mudança que se encontra a oportunidade. Sei que sabe, não só porque leu em algum lugar, mas porque é capaz de sentir isso. O pessoal que ganha dinheiro em bolsa, por exemplo, só ganha porque alguma coisa muda. Se tudo ficasse sempre igual, não haveria possibilidade de ganho.

O problema é que mudar dá um medo danado. Aliás, medo é um sentimento que todos temos. Quem disser diferente está mentindo, e não só na minha opinião, mas na de Mark Twain também. Veja o que ele disse certa vez: “A coragem é a resistência ao medo, é o domínio do medo – não a ausência do medo.”.

Então, lembre-se: você vai sentir um medinho. E não será agradável. Porém muito pior é sentir a decepção de ter passado a vida inteira trabalhando em condições ruins só para não precisar mudar nada.

Mais um estímulo? Ao mudar, você estará entre o seleto grupo dos que possuem a coragem para tal, e ser minoria está profundamente relacionado com a obtenção da Única Condição.

Sim, você estará em minoria porque a maioria das pessoas evita mudar, mesmo após graves acontecimentos. Por exemplo, um estudo mostrou que 90% dos pacientes que passaram por uma cirurgia do coração não fazem nada de diferente no sentido de ter uma vida mais saudável.

Não lhe parece que esse pessoal teria uma forte razão para mudar? E quanto a você? Vai esperar que as coisas na sua vida cheguem a extremos como este para pensar em melhorar as condições da sua vida?

Não precisa de desespero. Saiba que a mudança tem uma irmã muito querida, e que muito a auxilia, chamada transição. Falaremos posteriormente sobre ela, mas, por hora, apenas cito um exemplo e peço que você pense se não conhece alguém que nele se encaixa.

Há pessoas que largam o emprego, abrem um negócio próprio, fecham o negócio próprio, voltam para um emprego, às vezes para o mesmo de antes, na mesma empresa. Agora, pense comigo: se não estavam bem antes, voltar ao mesmo emprego mais parece uma declarada falta de opção do que uma genial estratégia, correto?

Mas isso é muito comum, porque as pessoas frequentemente se esquecem de que, para mudar, é desejável uma transição. Esquecendo-se disso, acabam agindo desesperadamente. Dissemos lá atrás: agir com criatividade e, principalmente, com calma.

Por isso, muitos regimes não funcionam, assim como muitas mudanças de emprego ou muitos negócios.

Lembre-se: quem é desesperado não planeja, não calcula e, portanto, não espera, esquecendo-se do que já possui para só pensar no que pode possuir. Quem é esperto calcula, planeja, espera e usa o velho para obter o novo; trabalha na transição de uma situação para outra melhor.

Obs.: Eu leria esse último parágrafo novamente.

Um dos seus objetivos como um Amplituder (pronto, está cunhado mais um termo) é garantir-se a si próprio. A cautela, pois, é uma demonstração de inteligência. Se você puder iniciar outra atividade enquanto continua na atual, ótimo, inclusive tendo em mente que, se você gosta de sua atual atividade, talvez nunca precise abandoná-la.

Veja Machado de Assis: funcionário público como profissão e escritor como vocação. Imagine só se você conquistar, em sua “atividade paralela”, a mesma expressividade de Machado de Assis…

Para encerrar esse rápido papo sobre mudança, tenha o cuidado de não se desgastar durante toda a vida com o que não é possível mudar. Estamos falando da prática. Estamos falando do que é possível fazer.

Por exemplo, pode ser que você tenha ideias diferentes das de seus pais, fenômeno natural experimentado por todas as gerações sucessivas. Dificilmente conseguirá mudar isso.

Você também pode não gostar de invernos rigorosos por detestar o frio. E quando aquela massa de ar polar vier lhe visitar os ossos, dificilmente conseguirá mudar seus efeitos.

Mas, vejamos. Você pode tentar conversar com seus pais somente sobre os pontos onde há convergência, não pode? Alguma coisa há de ser comum entre vocês: gosto musical, time de futebol, preferências culinárias… Postura inteligente, não?

Você também pode pensar em se mudar para uma região onde o inverno seja bem mais ameno, não pode?

Percebe o que estamos fazendo aqui? Estamos identificando o que dá e o que não dá para mudar. Acredite em mim, não dá para mudar o inverno na Finlândia. Mas dá, por exemplo, para trabalhar em uma filial de uma empresa finlandesa no Brasil (na minha cidade há alguns profissionais que fizeram exatamente isso e escaparam do gelo para sempre).

Esse é um comportamento totalmente amplitudiano: foco no resultado. E esse resultado não se alcança sem esforço, como podemos observar em mais um trecho de Outliers – Fora de série: “O sucesso é uma combinação de talento e preparação […] porém, quanto mais se analisa, menor parece ser o papel do talento e maior o da preparação.” (grifo meu).

O objetivo do Amplitudo (mais um?) é apontar o caminho para esta preparação; é dar-lhe condições de alterar o que está dentro do seu domínio: não a sorte ou as oportunidades da vida, não a sua família, não o clima, mas a sua própria capacidade.

Isso dá para mudar.

Meu desejo é que você esteja entre os 10% que, após a cirurgia do coração, aprendem com a lição e decidem mudar sua vida para melhor.

Meu desejo é que você esteja entre a parcela ainda menor de pessoas que decidem mudar sua vida para melhor antes que seja necessária a “cirurgia do coração”.

Meu desejo, acima de tudo, é que você não se transforme em um Charlie Brown reclamando do almoço:

– Ah, todo dia almoço a mesma coisa… – diz Charlie Brown.

– E quem prepara seu almoço? – pergunta Linus.

– Eu mesmo.

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