Dinheiro (p. 4)

Controle:

Falamos, em Os Tijolos, que a sensação de controle agrada a todas as pessoas; a algumas mais, a outras, menos. A posse de algum dinheiro, especialmente se mais do que você precisa, lhe provê essa situação.

No mundo em que vivemos, tudo quanto é comercializável pode ser obtido se você puder pagar o valor solicitado.

Vivendo abaixo das suas posses, ou seja, se você faz sobrar dinheiro mês após mês, qualquer imprevisto o encontra assim: cheio da grana. E isso só traz vantagens.

Se você realmente lida bem com o dinheiro, consequentemente sabe que ele não é mais importante, por exemplo, que as pessoas. Não deveria também ser mais importante que sua saúde. Dessa forma, quando uma situação delicada se apresenta à sua frente, você não precisa sacrificar uma pessoa ou a sua saúde para poupar o dinheiro.

Você faz exatamente o contrário, sendo esta uma atitude sábia e sensata que não pode tomar aquele que não possui dinheiro. Exemplo. Você pega uma roupa emprestada com uma pessoa para um uso muito específico – por exemplo, um terno verde – e, em sua opinião, não vale a pena gastar dinheiro com algo que você talvez não venha a usar novamente em toda a sua vida.

Acontece que, durante a utilização da vestimenta, um pequeno acidente acontece. Como o terno está um pouco pequeno, ao que você faz um movimento mais brusco com os braços parte do forro interno se rasga.

Se você tem dinheiro, talvez entenda que, apesar de ter decidido não gastar com um terno verde, aquele terno não é seu, mas do seu bom amigo que o emprestou. Você não está gastando em um terno, mas em sua amizade. Talvez compense enfiar a mão no bolso e trocar toda a forração interna, em vez de apenas fazer um remendo grotesco na sua casa quando chegar da festa.

Se você não possui dinheiro, pode ficar tentado a imaginar que a pessoa não vai reparar no remendo grotesco. Mas se ela reparar e, pior, se a integridade do terno for algo importante para o seu amigo, ocorrerá desapontamento e mágoa, pois quem lhe emprestou a roupa ofereceu, além do artigo em questão, grande demonstração de boa vontade, não tendo recebido o mesmo em troca.

Outro exemplo. Você vai a uma festa e a comida oferecida, além de não estar saborosa, também não é saudável. Se você tem dinheiro, ao sair da festa, pode ir ao local de sua preferência e degustar alguma iguaria que lhe agrade ao paladar, ou que seja saudável, ou ambos.

Se, porém, você não possui dinheiro, vai lembrar que a comida da festa já está paga e, munido desse tóxico pensamento, optará por fartar-se de discutíveis quitutes para aplacar a fome. E, então, depois, provavelmente se arrependerá, se sentirá mal ou reclamará da comida – ou tudo isso junto. A ausência de capacidade financeira para contornar a situação imprevista e indesejada fez com que você não a pudesse controlar. Foi a situação que, infelizmente, controlou você.

O dinheiro, portanto, mesmo não sendo tudo na vida, tem a possibilidade de auxiliá-lo a manter-se no controle das diversas situações que os desafios da vida hão de lhe apresentar.

 

Disciplina:

Se você se lembrar do tijolo maximização, lembrará também que – sem neura – faz sentido querermos o maior e melhor resultado possível. Pois bem, se o esforço é quem possibilita o ganho, a disciplina é quem garante o tal do melhor resultado possível.

Compare essas duas pessoas que conheço. Uma possui um salário 50% maior que a outra. Durante um período de três anos, uma conseguiu juntar uma quantidade equivalente a cinco vezes seu salário mensal enquanto a outra, nada juntou.

Já conhecendo os exemplos amplitudianos, não será surpresa se eu disser que foi a que ganhava menos que conseguiu juntar o dinheiro. E não se trata de didática novamente. O caso é real, ainda cabendo mencionar que ambas as pessoas sustentavam família e viviam em condições semelhantes, portanto, tendo contas para pagar e tudo mais.

Porém, enquanto uma, apesar de ganhar menos, aproveitava os descontos para pagamento à vista e sempre pagava as suas contas em dia, mantendo-se no controle de suas despesas, a outra fazia muitas prestações sem sequer contabilizar quanto de seu salário futuro já estaria comprometido com prestações feitas no passado. Além disso, as contas que possuía eram pagas sempre com atraso, o que diminuía ainda mais as possibilidades de poupar qualquer quantia.

E se você pensa que “a coisa não é tão assim” e que eu posso estar exagerando nessa exaltação à disciplina, pode comprovar por si mesmo, estatisticamente. Selecione alguns autores consagrados que falam a respeito de planejamento financeiro. Entre esses, veja quantos acreditam que a disciplina é fator fundamental. Após fazer suas contas, você chegará a esse número: 100%.

 

Paciência:

Se a disciplina é necessária porque o dinheiro se constrói com o tempo – às vezes, com muito tempo – a paciência é necessária pela mesma razão.

Não importa se os seus investimentos são mais conservadores ou mais arrojados. A ansiedade – contrário da paciência – ao longo do processo colocará em risco a saúde de seus investimentos e, consequentemente, seus planos para o futuro.

Obs.: Quando mencionamos os termos investimentos e planos para o futuro na mesma frase, certamente estamos falando da sua liberdade, da sua independência financeira.

Trocando em miúdos: se você junta dinheiro em renda fixa, que tem um rendimento relativamente baixo apesar de constante, precisará de bastante tempo para atingir sua meta de acumulação. No meio do caminho aparecerão tentações de consumo, viagens com desconto, carros sem imposto e essas coisas. E não serão poucas oportunidades, porque, se você permanecer poupando por muito tempo, também por muito tempo estará sujeito às incríveis ofertas do comércio. Então, além de disciplina, há de se ter paciência. Muita paciência.

Se, por outro lado, seus investimentos são em renda variável, como a bolsa de valores, poderá atingir sua meta em um prazo menor, devido ao potencial maior de rendimentos no longo prazo. Sua paciência, aqui, será exercitada com as flutuações às quais este investimento está sujeito, como a angustiante espera por uma nova alta após uma grande baixa.

E, nesse caso específico, podemos citar Mauro Halfeld em seu livro Investimentos: “Muitos deles (investidores) acabam negociando suas ações com exagerada frequência, perdendo as boas recompensas auferidas pelos investidores pacientes e disciplinados.”.

 

Inação:

Lembra desse? Esse é daqueles tijolos um pouco complicados de entender. Ou, como sua amiga, a paciência, até fácil de entender, mas difícil de praticar.

É normal. Em nossa sociedade atual, ação é sinônimo de progresso, enquanto a inação parece ser perda de tempo. Já falamos sobre isso. Porém, a inação pode realmente não ser perda de tempo alguma e, muitas vezes, salva um dinheiro danado. Examine mais este caso real.

Quando me vi na situação de querer morar com a minha esposa em uma casa em vez de em um apartamento, comecei a analisar opções. O apartamento oferecia mais segurança que uma casa fora de um condomínio e, como temos o hábito de viajar com alguma frequência, deixando a casa sozinha, a opção da casa desprotegida não parecia agradável. Já tive, por mais de uma vez, problemas dessa natureza em minha infância e não queria voltar a experimentá-los.

– E uma casa em um condomínio, Álvaro?

Então… havia algumas tão bonitas quanto adequadas mas, pelo precinho que estavam pedindo… sem chance.

Contudo, o assunto ainda não estava encerrado, pois possuíamos um terreno onde poderíamos construir. O único problema é que, como já me cansei de observar, construções que começam sem que se tenha o dinheiro total necessário (a maioria dos casos, e também o nosso, à época) se transformam frequentemente em uma coisa estúpida e inútil:

uma obra inacabada, que já consumiu todo o seu dinheiro, mas na qual você ainda não pode morar.

Comecei a refletir sobre o que estaria me fazendo ter vontade de morar em uma casa. Entre alguns fatores do dia a dia como maior quantidade de sol para secar roupas, por exemplo, estavam dois outros mais significativos: possibilidade de ter um cachorro e melhor estrutura para a criação dos filhos.

Agora, vamos botar a cabeça para funcionar. O apartamento onde morávamos, ainda que pequeno, certamente comportava nosso filho, e talvez um segundo, até que eles ficassem muito grandes ou desejassem independência o suficiente para não poderem coexistir no mesmo quarto. Isso levaria algum tempo, certamente, visto que não tínhamos sequer o primeiro filho ainda…

Informações adicionais: por ser pequeno, o apartamento era bem fácil de cuidar, dispensando auxílio externo (certamente remunerado). Por ser bem localizado, eu podia ir para o trabalho de bicicleta.

Comecei a perceber, então, que a manobra idealizada para a aquisição da casa me traria, em um prazo imediato, apenas o benefício de poder ter um cachorro nas condições que eu desejava. E eu teria que vender o apartamento para construir no terreno de que dispúnhamos. Sem contar o gasto mensal a mais com o combustível adicional, além de muita dor de cabeça, a operação me custaria perto de uns R$ 80.000,00.

Cachorro caro, né?

Foi quando percebi que a melhor coisa a fazer era nada. Por causa de uma crescente valorização imobiliária que ocorria em minha cidade naquele momento, os imóveis valorizavam muito mais que o material de construção e o serviço de mão-de-obra. Isso significava que, se eu tivesse paciência, a construção da minha casa não ficaria muito mais cara, mas o meu apartamento talvez ficasse.

Não deu outra. Em dois anos, os materiais de construção subiram um pouquinho, mas o meu apartamento passou de 90 mil para 130. E quarenta mil reais a mais certamente compram ração de cachorro para o resto da vida.

 

PARA ACABAR

Nunca se esqueça de que o uso deficiente do dinheiro pode restringir sua liberdade.

Por outro lado, ter consciência da realidade não apenas evitará ilusões, mas também impedirá que sua vida seja controlada por outras pessoas.

Lembre-se: suas escolhas, seu destino. Amplie seu dinheiro e ampliará sua liberdade.

Agora, acabe logo com isso, amplituder: Conhecimento.

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