Os Tijolos - Família Realidade

Oposição

1. Antagonismo, contrariedade.

2. Contraste.

A oposição é uma condição tão antiga quanto o universo. Basta imaginar que, onde se tinha o nada, criou-se o tudo. Não gostou desta? Há outra possibilidade: o que existe desde sempre, não acabará nunca.

– Álvaro, por favor, menos exemplos metafísicos…

Perdão. A ideia não é discutir a origem do cosmos, mas mostrar que os conceitos antagônicos – ou contrastantes – são, há muito tempo, parte integrante de tudo o que existe.

Perceba: bom e ruim, bem e mal, prós e contras, fácil e difícil, ganhos e perdas, verdade e mentira… A lista é infinita.

Existe uma ferramenta usada em administração e em marketing chamada Matriz SWOT. Essa ferramenta é uma bela demonstração de combinação entre os tijolos observação e oposição e consiste em relacionar, em uma tabela de duas linhas e duas colunas, quatro áreas: forças, fraquezas, oportunidades e ameaças (geralmente de uma empresa ou de um produto).

Obs.: A explicação da sigla são as palavras em inglês para as quatro áreas acima, respectivamente: S (strength), W (weakness), O (opportunities), T (threats).

Procure saber mais sobre a matriz SWOT, pois ela é muito prática e ajuda não somente a ver melhor com o quê estamos lidando, mas também a ponderar entre perspectivas promissoras ou não após esta aproximação dos opostos (força-fraqueza, ameaça-oportunidade). Longe de estar restrito ao campo da administração de empresas, este é um recurso que pode ser usado para a análise de qualquer situação em sua vida.

Utilíssimo, portanto.

No tijolo atitude eu disse que comentaríamos a seguinte frase: “ser promovido uma quantidade maior de vezes em uma quantidade menor de tempo”.

Pedi a você que prestasse atenção à construção desta frase para ver se conseguiria identificar a presença da oposição (lá atrás talvez você não tenha reparado, mas agora, com a sugestão, não será difícil).

Há, na verdade, duas oposições. Uma é linguística: as palavras maior e menor. A outra é conceitual: normalmente, para ser promovido uma quantidade maior de vezes, precisa-se de uma quantidade maior de tempo, e não o contrário.

A oposição é um conceito tão natural que os escritores o utilizam com frequência – exatamente como fiz na frase que acabamos de resgatar. Trata-se de uma figura de linguagem chamada antítese e é um dos instrumentos mais usados em máximas. Se houver curiosidade, comece a reparar como grandes citações de famosos – ou mesmo os ditados populares – incluem o uso desse precioso recurso.

Obs.: A água é mole, mas a pedra é dura…

Acredito que a razão do frequente uso desta ferramenta seja o fato do ser humano se identificar com a aproximação de opostos. Agora, qual seria a explicação para essa identificação, eu não sei. De qualquer forma, não fará mal arriscar uns palpites. Afinal, o tijolo anterior pareceu sugerir que devemos pensar um pouco…

Uma possibilidade: o ser humano, por ter uma natureza animal permeando suas ações (busca pela sobrevivência), possui uma certa predisposição ao combate, ao confronto, à competição, à demonstração de forças etc. Ora, a oposição, se é uma aproximação de opostos, é o estabelecimento de um confronto, ainda que no plano das ideias.

Outra possibilidade: o pensamento humano, por lidar com múltiplas variáveis, precisa organizá-las para melhor examiná-las. Para tal, utiliza-se dos contrastes. Exemplo: “Vou ao supermercado hoje ou amanhã? Se for hoje, passarei na farmácia antes ou depois do supermercado? Vou pelo caminho mais curto, economizando combustível, ou pelo mais rápido, economizando tempo?”. Essa subdivisão em pequenos blocos antagônicos facilita a organização do pensamento para a tomada de decisões.

Poderíamos continuar neste exercício, tentando até estabelecer uma razão fisiológica para essa aparente atração pelos opostos: o antagônico ritmo da pulsação sanguínea (pulsa-para, pulsa-para) que, por sua vez, tem origem nos opostos batimentos cardíacos (sístole-diástole, sístole-diástole).

As possibilidades de filosofia aqui são maravilhosas, sendo, também, um pouco inadequadas ao que nos pede o momento e o objetivo do texto.

– Concordo, Álvaro. Não deixe que os devaneios nos atrapalhem…

Não deixo, prometo. Mas vou ter que citar Platão mui rapidamente, tudo bem?

Quando Platão, com simplicidade e maestria, observou que tudo quanto vive provém daquilo que morreu, estava reforçando esta nossa constatação: a oposição está intrinsecamente relacionada à própria vida. A observação desse conceito vai ser de grande utilidade no seu dia a dia.

Um último e rápido comentário para saldar uma dívida que tenho com você.

Na introdução de Os Tijolos, dissemos que utilizaríamos da ideia oposta de cada item porque, muitas vezes, o oposto nos ajuda a melhor definir o proposto.

Obs.: Descobri que esse fenômeno possui um estranho nome e este nome é antiperístase, que é a circunstância que põe em relevo uma qualidade por influência de outra oposta.

A explicação acima se completa se lembrarmos que, alguns tijolos atrás, falamos sobre a paciência e, para que você não me compreendesse mal, mencionei que me referia à paciência não como oposto de impaciência, mas de ansiedade. Percebe que foi através do oposto que bem definimos o proposto? O mesmo se deu com o conceito de responsabilidade. Se desejar, volte lá e veja.

Agora, quanto a este tópico de oposições, posso encerrá-lo…

Ou desenvolvê-lo mais um pouco.

Da sua parte, você poderá continuar com a leitura…

Ou interrompê-la.

E poderá se arrepender de ter continuado…

Ou de ter interrompido…


Próximo Tijolo: Cenário.

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