Cenário

1. Modelo para análise, construído a partir de indicadores sociais, econômicos, políticos, etc. referentes a determinado período histórico.

2. Visão ou observação de um assunto em toda a sua amplitude.

Historinha.

Você diz a um amigo que talvez passe na casa dele hoje à noite para pegar uns documentos importantes que ele ficou de revisar. Você diz talvez, porque não sabe se conseguirá, mas seu amigo o tranquiliza: ele não pretende sair de casa hoje.

No fim, tudo dá certo e, após grande correria, você consegue ir à casa dele. Porém, ao chegar lá, percebe que seu amigo não está em casa. Quando você liga para ele e o indaga a respeito, ele diz, solenemente: “Mas eu não sabia se você viria ou não…”.

Eu não sei se isso já aconteceu com você, mas eu já vi acontecer várias vezes. Muitas pessoas têm grande dificuldade em uma habilidade muito simples: trabalhar com cenários.

Veja como não é difícil. Trabalhar com cenários é imaginar possíveis situações e traçar uma linha de ação para cada uma delas. Infelizmente, parece que a mente da maioria das pessoas só consegue lidar com o que existe. E como o futuro ainda não existe, que tipo de precaução elas tomam? Nenhuma.

Seu amigo, por exemplo, estava diante de apenas duas situações possíveis: ou você passava na casa dele ou não. Se você disser que não passará na casa dele, é claro, ele pode sair. Como existia um talvez no meio da jogada, até que haja uma definição mais certa, ele precisa ficar.

Eu me espanto com a quantidade de vezes que esse pensamento básico não consegue ser elaborado por pessoas que se dizem racionais. Veja como não é tão complicado: “Quero sair, mas o fulano ficou de vir aqui. Se deixo de sair e ele não vem, perderei a oportunidade de ter saído. Mas se eu sair e ele vier, ficarei em falta com ele.”

Pronto. Cenários claros. Agora, vamos às soluções possíveis. Seu amigo pode ligar para você expondo a necessidade de sair e solicitando uma confirmação do encontro. Ele pode pedir ao vizinho que entregue os documentos. Ele pode ir até a sua casa e deixar os documentos lá. São tantas as possibilidades… Mas não. Nosso amigo não sabe lidar com cenários, então, frente a duas possibilidades, o que ele faz? Por preguiça de pensar, ele define que uma será o futuro. E o mundo que trate de acompanhá-lo.

Observe novamente a segunda definição deste nosso tijolo: visão ou observação de um assunto em toda a sua amplitude (cá entre nós, gosto muito dessa palavra: amplitude). Não foi isso que fizemos no penúltimo parágrafo? Observamos o assunto nos seus possíveis desdobramentos. Em seguida, como consequência natural, elaboramos uma linha de ação para cada uma das situações observadas.

Não é difícil, mas, ainda assim, muitos não conseguem. Por isso você, que busca a sua independência, precisa desenvolver essa habilidade. Lembre-se de que possuir habilidades que os outros não possuem é a própria essência da Única Condição.

Já falamos isso uma ou outra vez, não falamos?

Obs.: Vai aqui um comentário de quem joga xadrez (mal, mas joga): esse saudável passatempo ajuda bastante o desenvolvimento da capacidade de vislumbrar múltiplos desdobramentos. Aliás, isso é, basicamente, a única coisa que você faz no xadrez – imaginar possibilidades – sendo, portanto, um excelente exercício para a ampliação da habilidade de lidar com cenários.

Se desejássemos sintetizar o conceito de cenário em uma espécie de fórmula matemática, poderia ser algo assim: “Se A, X; se B, Y.”.

Vê-se que “A” e “B” são as possíveis situações, e “X” e “Y”, as linhas de ação para cada uma delas: “se acontecer A, farei X; se acontecer B, farei Y.”.

Peço desculpas se o final deste tópico ficou muito abstrato, mas termina ainda pior, veja…

Para que possamos ter material de comparação com o próximo tijolo, atente bem para esta ideia quase filosófica: o cenário é uma antecipação, uma suposição; uma análise do que ainda não se observou por não ter ainda ocorrido, como uma comparação no tempo.

Próximo Tijolo: Modelo.

Índice para todos os tijolos aqui.