Os Tijolos - Família Mudança

Inação

1. Falta de ação; inércia; abstenção de ação.

Top 20, sem sombra de dúvida…

Em um mundo em constante movimento e mudança, a ausência de ação é, normalmente, uma aberração. Você precisa trabalhar, precisa se ocupar, precisa ter atividades extras, precisa fazer cursos… Você sempre tem que estar fazendo alguma coisa. Sempre.

Bem, se considerarmos a inação como preguiça, languidez ou indecisão, há algum fundamento nesta busca por atividade. Mas não se iluda. Desde há muito tempo os sábios conhecem a força contida no não agir, especialmente os orientais, em cujos textos você encontrará diversos conselhos a esse respeito.

E se pensa que eu mesmo sou apenas um molenga tentando justificar minha própria indolência, permita-me sugerir que você considere como o oposto da inação a precipitação – em geral, fruto da ansiedade. Começa a parecer mais digna a ideia, não parece?

Obs.: Fica ainda mais fácil se você enxergar a inação como uma reflexão ou uma pausa estratégica consciente.

Devido às constantes pressões às quais estamos submetidos durante a nossa vida, temos natural propensão a querer resolver logo as coisas. Afinal, elas são muitas. E só as resolveremos se agirmos.

No entanto, boa parte das coisas ou (1) não podem ser resolvidas com qualquer ação de nossa parte, ou (2) resolvem-se sozinhas, sendo a inação a melhor postura, pois poupa seu tempo e livra espaço em sua mente para você se ocupar de coisa mais útil.

– Álvaro, já percebi que essa enumeração costuma ser seguida de exemplos para cada um dos itens…

Bem, após mais de uma centena de páginas juntos, conhecemos ou não um ao outro?

Vejamos um exemplo do que (1) não se pode resolver: a diferença entre homens e mulheres. Você pode desejar que seja diferente, elaborar teorias sociais que remetem à época das cavernas ou até questionar inflamadamente os desígnios de Deus. De nada adianta. Homens e mulheres, em geral, comportam-se de maneiras distintas. Querer agir no sentido de aproximar as condutas e os estilos desses dois grupos é desperdiçar tempo e energia. Muito mais inteligente é reconhecer as diferenças e buscar viver bem com elas.

Agora, um exemplo do que (2) se resolve sozinho: uma febre moderada. A febre é um mecanismo de defesa, mostrando que o sistema imunológico está combatendo corretamente algum invasor. Febres altas podem até matar, mas uma febre baixa faz apenas o serviço dela sem causar qualquer dano ao organismo.

Porém, em virtude do desconforto ou do desespero causado, muitas pessoas se apressam em eliminar artificialmente a febre moderada usando medicamentos. Isso priva o organismo de se fortalecer – o que ocorreria ao vencer sozinho o combate – e aumenta as chances de ele ser novamente atingido por outro invasor.

Este último exemplo nos mostra duas valiosas contribuições da inação: a não interferência (deixa quieto) e a contemporização (vai passar). Expanda suas analogias para além da gripe e pense em outros casos como, por exemplo, as relações entre pais e filhos.

Veja como são melhores as relações onde os pais não ficam exaustivamente intervindo em tudo o que o filho faz (não interferência). Observe também que de nada adianta tentar combater o estilo de música ou de roupas que um adolescente adota. Dê tempo a ele (contemporização) e tudo se resolverá – um dia ele vai parar de ouvir aquela porcaria e se vestir como gente, acredite.

O grande segredo para a inação é um valor que discutimos na família atitude lá atrás: a paciência.

É necessária muita paciência para não viver agindo imediatamente em resposta a tudo o que acontece. Na verdade, se sua ação é sempre muito rápida, não é ação, é reação. Se não há tempo para planejar uma verdadeira ação é porque você só está respondendo aos estímulos externos – e respondendo, muitas vezes, sem pensar. Nesse cenário, não é você quem controla os acontecimentos, mas são eles que controlam você.

E já que falamos sobre controle, citemos mais uma das falácias que nossa sociedade utiliza para estimulá-lo à ação irrefletida. Normalmente, parece que está no controle quem está agindo, o que não é necessariamente verdade. Veja o quanto causa impacto e exerce influência sobre os demais uma pessoa que, diante de um acontecimento qualquer que a desagrada, simplesmente se retira sem nada dizer.

Uma coisa é certa: não é fácil. A paciência necessária à inação precisa ser constantemente cultivada, pois, a cada minuto, estão nos sugerindo o inverso: “compre agora”, “ligue já”, “é só neste final de semana”. A inação é, portanto, não apenas uma demonstração de sabedoria, mas, sobretudo, de força. É resistir à tentação, é nadar contra a corrente.

A parte boa é que este comportamento – ter coragem para contrariar a maioria – é o perfil de praticamente todos os que alcançam a Única Condição.

E aí? É o seu caso?


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