Os Tijolos - Família Ordem
Inicio
1. Princípio, começo.
Definiçãozinha desnecessária, não? Mas não se iluda. O assunto é da maior importância.
O início é vital. No mínimo ele “dá o tom” para o que virá na sequência. A maneira como alguma coisa se inicia costuma ser responsável pela maneira como ela termina.
Se você faz negócios com um parceiro mau caráter, as perspectivas de se meter em encrenca já estão definidas desde o início. Se você adquire um carro totalmente financiado, algumas coisas já estão definidas desde o início – uma delas, por exemplo, é que você, ao fim do processo, terá comprado apenas um carro, mas terá pago o preço de dois.
Drogas? Sabemos que não experimentar é o grande segredo, pois é o primeiro uso que conduz aos demais.
E lembrei-me, novamente, da minha faculdade – mas posso assegurar que nada tem a ver com o exemplo anterior das drogas. É que mais uma vez compartilharei um ensinamento aprendido com um professor.
Em sua primeira aula do ano, ele perguntou, vestindo um terno completo, se tínhamos conhecimento da prova que teríamos na semana seguinte. Após a estupefação generalizada nos semblantes de todos, ele nos instruiu que o material se encontrava na copiadora da escola.
O resto da aula se deu em desconfortável silêncio. A semana seguinte chegou, fizemos a tal da prova e durante todo o ano letivo os alunos nunca apresentarem problemas disciplinares nas aulas desse professor.
Conforme o ano se aproximava do fim (o curso era anual, não semestral), o traje social deu lugar a outros mais informais enquanto o professor se permitia uma postura mais solta, mais relaxada, rindo de piadas e até contando algumas. Alguém tomou coragem e perguntou:
– Professor, o que está acontecendo? No começo do ano você vinha de terno, todo ditador, dando prova na segunda aula, e agora está assim, super legal…
E ele, serenamente, ensinou:
– Se eu começar rígido, na hora que me tornar maleável vocês aceitarão. Se eu começar frouxo, na hora que eu me tornar rígido vocês não aceitarão.
É isso aí, prôfe. Esse, sim, conhecia o poder dos inícios. Da minha parte, tratei de jamais esquecer a lição.
Obs.: As palavras não foram exatamente essas, assim, com cara de sabedoria chinesa. Mas eu quis dar esse ar de sobriedade para homenagear o prôfe.
Vemos também o poder do início em toda a história de pioneirismo. Repare que os primeiros a fazer qualquer coisa costumam ser eternizados. Muitas vezes, nem fizeram um trabalho tão bem feito quanto os que vieram depois. Mas por terem sido os primeiros…
Mais uma vantagem? A simplicidade e a flexibilidade. Quantas vezes forem necessárias citarei o livro O Tao e a realização pessoal, de John Heider, que é uma excelente abordagem no estilo “trocando em miúdos” da imortal obra de Lao Tsé, o Tao Te Ching: “Aprende a reconhecer os começos. Ao nascer, os acontecimentos são relativamente fáceis de manejar.”
Fáceis de manejar. Que expressão singela para ressaltar a simplicidade e a flexibilidade típicas dos inícios.
Hora do alerta. A história mostra que muitos inícios tortos deram origem a grandes realizações, e muitos inícios perfeitos resultaram em desastres, mas, atenção: esta é a exceção que comprova a regra. Ninguém em sã consciência começaria algo da pior maneira possível torcendo para ser uma exceção e transformar-se em um grande êxito.
Em um capítulo do livro Vá direito ao assunto, Stuart R. Levine recomenda alguns procedimentos matinais antes de tudo, pois a disposição física do resto do dia está condicionada a esses primeiros vinte ou trinta minutos. O nome desse capítulo é Uma Boa Largada e ele começa assim: “Qualquer velocista lhe dirá que uma largada bem feita vale metade da corrida.”.
Isso me lembra como os pilotos de automobilismo se matam no treino classificatório para conseguir uma boa posição na largada, e depois se matam na largada para estabelecer uma boa posição nos primeiros segundos da prova. Eles sabem como ninguém que o início pode definir o final.
Procure lembrar-se do que acontece com um livro que começa ruim: corre o risco de não ser lido. Mesmo que o livro fique bom depois, se a pessoa já tiver parado de ler, de que adianta? Um pouquinho de maximização no início cairia bem…
O mesmo acontecerá com tudo em sua vida. Se começar mostrando a parte ruim, você correrá o risco de não conseguir mostrar a parte boa.
Portanto, preste atenção aos inícios.
Próximo Tijolo: Final.
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