Paciência

1. Qualidade de paciente.

2. Virtude que consiste em suportar as dores, incômodos, infortúnios etc., sem queixas e com resignação.

3. Perseverança tranquila.

Será mesmo que você precisa de dois rins?

Aqui cabe mais um esclarecimento sobre a ideia oposta, que não é, exatamente, a impaciência. Não desejamos, por exemplo, que alguém não se impaciente com um político mau caráter ou com um pai que bate nos filhos. Como disse Edmund Burke, “há um limite onde a paciência deixa de ser uma virtude”, e essa impaciência pode ser vista como uma saudável intolerância sendo, de certa forma, um braço da justiça.

Para que fique claro, portanto, o atributo que desejamos ressaltar aqui é a paciência como oposto da ansiedade.

Comecemos com o total absurdo de um caso ocorrido na China: para comprar um tablet (computador portátil), um rapaz vendeu um rim. O próprio rim.

Penso duas coisas. A primeira é que, se o rapaz, demonstrando esforço, trabalhasse diligentemente durante certo tempo, conseguiria reunir o dinheiro necessário à compra. Eu disse diligentemente e eu também disse durante certo tempo. Não aconteceria de um dia para o outro, claro, mas por mais pobre que o rapaz seja, ele atingiria o objetivo, afinal, estamos falando de um computador pessoal, não de um transatlântico.

A segunda é que, como se trata de um equipamento eletrônico, o rapaz, demonstrando alguma inteligência, poderia supor que seu preço – do equipamento, não do rim – certamente cairia em pouco tempo devido ao constante e acelerado progresso tecnológico. Isso reduz a quantidade daquele certo tempo durante o qual ele teria que trabalhar.

E no horizonte surge, inquieta e incisiva, a pergunta que não quer calar: não dava para esperar?

O caso desse rapaz, ainda que extremo, infelizmente representa o mal que os “tempos modernos” vêm causando às pessoas. A Internet nos mostrou que a informação pode ser obtida instantaneamente e as pessoas se confundiram: elas pensam que tudo pode ser obtido instantaneamente.

Mas as coisas não são assim. Basta analisar os grandes homens e suas grandes conquistas para perceber como o tempo sempre foi um elemento necessário – bem como a paciência.

Sabe o que aconteceria se alguns homens tivessem tentado ir à Lua com o 14 Bis logo após Santos Dumont ter demonstrado que podíamos voar em segurança? Seriam considerados loucos.

Ou se os pesquisadores médicos tivessem uma ideia para um novo medicamento e, antes de realizar os testes apropriados, já administrassem a solução nas pessoas? Seriam considerados loucos.

Entenda que, quando você permite à sua ansiedade controlar suas atitudes, está agindo da mesma forma. A ansiedade é a mais leve forma da insanidade, uma vez que também obscurece a razão, frequentemente impedindo-nos de tomar atitudes sensatas.

A paciência pode ir além; pode ser mesmo um grande diferencial, uma vantagem estratégica. O que hoje denominamos Estratégia Fabiana é a capacidade de aguardar sem agir diante de uma determinada situação. A origem desta expressão remonta aos campos de batalha da antiga Europa, onde um esperto general ficou famoso por ganhar uma batalha fazendo uma única coisa: nada.

Do Oriente também chegam recomendações parecidas há milênios. Leia A Arte da Guerra, de Sun Tzu, e verá como ele enfatiza a importância de um exército agir somente quando a ação produzirá claro benefício.

E se estiver farto dessas comparações militares (eu mesmo não gosto muito), leia o Tao Te Ching, de Lao Tsé, muito mais filosófico e conceitual. Veja quantas vezes ele menciona o não-agir como virtude – que, de tão importante, mereceu um tijolo próprio que será discutido posteriormente.

Não encerraríamos este tijolo sem atentar para a beleza de sua terceira definição: perseverança tranquila. Em duas palavras, ela reforça a necessidade de esforço sugerindo um estado de espírito dos mais desejáveis.

Não seria esta uma boa escolha?

Próximo Tijolo: Moderação e Prudência.

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