Saúde (p. 2)

Alimentação

Esse texto poderia ficar muito chato – e longo – se tratássemos de um assunto tão abrangente como a saúde de forma bastante pormenorizada.

Não é esse o objetivo.

A intenção aqui é citar levemente o óbvio (assim não fica chato) e apenas estabelecer pontos de interesse para que você possa buscar mais informações por si só posteriormente (assim não fica longo).

Abordemos o assunto, então, com a seguinte questão inusitada: o que o mercado de imóveis tem a ver com a alimentação saudável?

No conhecido livro Pai Rico, Pai Pobre, Robert Kiyosaki diz que a estratégia de comprar imóveis para vendê-los após uma valorização é equivocada pensando em ganhos de curto prazo. Sim, imóveis se valorizam. O problema é que demora muito.

A dica não era ganhar na venda do imóvel, mas na compra. A forma como ele ganhou bastante dinheiro comprando e vendendo imóveis não era vendendo caro, mas comprando barato. Quando uma pessoa não conseguia manter em dias os pagamentos de um imóvel e o bem era levado a leilão, por exemplo, lá estava o autor para comprar o imóvel com um desconto significativo. Depois, bastava oferecê-lo pelo preço de mercado que, em pouquíssimo tempo, o negócio era realizado.

No livro ele mostra exemplos numéricos, desnecessários de serem reproduzidos aqui. Mesmo porque, não é de imóveis que estamos falando, mas de saúde.

E qual seria a relação entre as duas coisas? Simples. O conselho de Kiyosaki tem a mesma aplicação em relação à boa alimentação: o segredo está na hora da compra.

No excelente livro Proteja a Saúde de Seus Filhos, o médico Joel Fuhrman nos chama atenção para uma recomendação que, em minha opinião, é o grande conselho oferecido pelo livro. Talvez, por ser um conselho muito prático, eu tenha me identificado tanto com ele. Tem carinha de Amplitudo.

Em meio às diversas recomendações sobre o que comer, quais os tipos de óleos saudáveis e quais não são, onde se encontram as proteínas e tudo o mais, existe esta pérola: ao fazer compras no supermercado, não compre alimentos que prejudiquem sua saúde.

– Álvaro, há alguma recomendação mais óbvia que essa?

Calma. Eu explico. O médico recomenda, como qualquer um faria, que você não coma porcarias. Mas, também como qualquer outro médico, ele sabe que você vai comer porcarias.

E aqui existe a sutil, porém importantíssima diferença. Muitas pessoas saudáveis comem as porcarias mais detestáveis que se pode imaginar (tipo… eu). Só que elas não fazem isso sempre. Só raramente. E, geralmente, só fora de casa.

Mas não se trata de paranoia. As pessoas saudáveis sabem que podem comer a porcaria que bem entenderem nessas condições, porque o dia-adia delas lhes garante uma regra de alimentação saudável. E isso só se dá porque elas não compram porcarias no supermercado para entupir sua despensa. Afinal, elas optaram por serem saudáveis, mas as porcarias continuam oferecendo um incrível prazer ao paladar. Render-se na hora da compra tornará mais difícil o processo de resistir à tentação na hora da fome.

Imagine a seguinte situação. Você está em casa, o tempo esfriou um pouco e você decide ver um filme. Se for com alguém interessante, melhor ainda.

Bate aquela fome inesperada e, antes de começar o entretenimento televisivo, você resolve preparar um lanchinho. Vejamos o que você tem, entre despensa e geladeira: nozes, amêndoas, alface, queijo branco, pão integral, iogurte natural, homus (falaremos dele mais à frente), cebola, cenoura, atum, beterraba, hortelã, aveia, pimentão, alho, mandioca, batata, mandioquinha, alho-porró, couve, espinafre, laranjas, limões, maçãs, abacates, bananas, granola, mel…

Obs.: Está assim bem desorganizado mesmo para você ter a impressão daquela cozinha farta, cheia de coisas.

Seu vizinho, aquele que se cansa por subir os lances de escada que levam ao apartamento, vendo o frio chegar e sabendo, assim como você, que vai passar aquele filme legal, também resolve garantir seu próprio aperitivo.

Vamos à cozinha do vizinho: bacon (começou bem), salsichas, bisnaguinha, margarina, maionese, nhoque, lasanha de micro-ondas, refrigerantes, pudim, bolo de chocolate, um treco light cheio de aspartame, linguiça, batata frita, trufa de maracujá e umas coxinhas que ele fritou na noite anterior – quando uns amigos apareceram para o jogo – e que, se levadas ao forno por uns quinze minutos, ficam como novas…

Meu palpite. O irresistível aroma proveniente do apartamento do vizinho há de sacudir as lombrigas que moram dentro de você. Mas, se houver brava resistência de sua parte, você há de continuar subindo suas escadas sem dificuldade por muito tempo.

Perceba que ambos – você e o vizinho – sentiram uma fome inesperada e súbita e não possuíam muito tempo para resolver o problema. Ambos correram à cozinha para comer o que estivesse disponível, pois o filme começaria em breve.

Sabe com que frequência isso acontece? Sempre. Ainda mais na sociedade de hoje, onde a obtenção da comida é muito fácil e as pressões do dia-a-dia nos fazem buscar alívio em prazeres de fácil obtenção.

Encare a realidade. Você, de pijamas, dificilmente sairia no meio de uma noite fria para comprar um saco de batatas fritas no supermercado. Se ele já não estiver na sua despensa, você não o comerá, e esse talvez seja o único grande momento da vida em que você pode usar sua preguiça a seu favor. Mas isso só é possível se você habitualmente não compra porcarias, não as levando, portanto, para dentro de casa.

Evitando a compra, a preguiça falará mais alto e você – ainda que levemente a contragosto – acabará comendo qualquer coisa saudável que estiver disponível em sua casa.

Esse é um conselho prático. Valiosíssimo e extremamente funcional – e insuportável também, como tudo o que manda a gente não comer coisas gostosas que fazem mal. Por experiência própria, digo que funciona. Continuo comendo minhas porcarias de vez em quando, mas assim que adotei essa recomendação de estabelecer a saúde na hora da compra e não na hora da bocada, tudo ficou mais fácil.Fazendo isso, não existe tentação a ser vencida, pois não existe tentação. Não existe culpa após o ato desregrado, pois não há ato desregrado. Tudo se torna muito mais fácil.

E, então, quando alguma pizza acontece na casa de alguém no final de semana, você pode mergulhar de cabeça. Afinal, está cheio de crédito acumulado durante a semana…

Este recurso lembra outro. Pense comigo. Se o estômago estiver cheio, não há meios de sentir fome. É uma impossibilidade física. E, como se não bastasse a física, ainda existem reguladores químico-fisiológicos para travar a sua goela quando a pança enche.

O segredo, então, frente ao desafio de evitar uma iguaria irresistível e que, ao mesmo tempo é bastante prejudicial à saúde, é encher o seu estômago antes com coisas que prestam. Na pior das hipóteses, com algo neutro, como água.

Não fique apenas na leitura. Procure experimentar o conselho tão logo tenha a chance. Quando, em qualquer lugar, você estiver com bastante fome e suas opções forem qualitativamente equivalentes a salgados de rodoviária, experimente tomar um meio litro d’água. Eu disse meio litro.

Tenho certeza de que vai ajudar. Como não há um único nutriente ou uma única caloria na água, estou certo de que esta providência-enganação durará muito pouco tempo, mas é o suficiente para você colocar a cabeça para funcionar sem os desvios de um deplorável julgamento nascido da combinação entre fome e aromas deliciosos.

Utilizando-me dessa grande ferramenta, às vezes tenho atitudes alimentares que espantam um pouco as pessoas. Mas como é bastante frequente que elas se espantem com minhas atitudes de forma geral, passei a não me importar.

Recentemente, por exemplo, eu e minha esposa íamos a uma festa de aniversário. Pouco antes de sair de casa, coloquei-me a jantar copiosamente.

– Você está jantando antes da festa? – pergunta a minha esposa, cuja expressão mostrava um misto de espanto e desaprovação.

Sim, eu estava jantando. E a razão é simples. Eu estava com muita fome e sabia o que seria servido na festa: milhões de salgadinhos fritos sabe-selá-com-que-óleo.

Como o sabor do salgadinho é excelente (parece que se o óleo for suspeito ele fica ainda mais gostoso) e, para piorar, eu estava com muita fome, era certeza de que eu iria devorar uma grande quantidade deles quando chegasse à festa. Ao fazer isso, o que aplacaria a minha fome por umas quatro horas, eu estaria me condenando a sentir as consequências por uns quatro dias e a prejudicar minha saúde talvez por uns quatro meses.

Minha opinião: não compensa.

Por isso, jantei antes e, chegando à festa, envenenei-me apenas com duas bolinhas de queijo. Certo, foram seis, mas é que eu gosto muitíssimo de bolinha de queijo…

As estratégias apresentadas acima nada mais fazem do que disponibilizar a você – ou não – os alimentos segundo duas classes muito simples: os que fazem bem e que, portanto, constroem e auxiliam, e os que fazem mal e, portanto, destroem e prejudicam.

Obs.: A última frase é mais que apropriada para nos lembrar da regra de ouro do Amplitudo: aumentar o que aumenta, diminuir o que diminui.

E quais são os alimentos que auxiliam e os que prejudicam?

Bem, aí chegou o momento de você fazer sua parte e lançar-se à busca. Há muita informação. Se a proteína da carne é igual à dos vegetais, ou o cálcio do leite igual ao da couve, se dá para obter vitamina B12 sem comer animais, se o azeite perde suas propriedades após aquecido a mais de 65 graus… Tudo isso é informação muito interessante e importante para auxiliá-lo a construir uma saúde extraordinária, principalmente se extraída de bons livros ou revistas com base em pesquisas científicas sérias, e não de publicações superficiais que só recomendam fechar a boca visando ficar em forma para o verão.

Se você procurar com carinho, encontrará leituras boas e, frequentemente, segmentadas. Há, por exemplo, um livro para melhorar a saúde de homens que atingiram a marca dos cinquenta anos de idade.

Chama-se Fique Mais Jovem a Cada Ano, escrito pelo médico Henry S. Lodge e seu paciente, Chris Crowley.

Apesar de, no momento em que escrevo, eu ainda não ter atingido essa marca, a leitura desse livro foi muito proveitosa, pois com ele aprendi vários conselhos úteis. Um, em particular, não foi aprendido, mas revisto. E a partir de agora, para você, também não é novidade. Veja este trecho:

“Meu orientador pessoal na área de nutrição dá um ótimo conselho sobre como lidar com a comida que adoramos mesmo sabendo que ela é ruim: não devemos tocar nela.”

Na sequência, ele cita uma importante constatação de John Drybred que, de tão simples, não poderia ser mais prática: “Para aqueles que são dados a excessos, a abstinência é mais fácil que a moderação.”.

Percebeu, né?

Trata-se, com outras palavras, da mesma recomendação feita pelo outro médico (Joel Fuhrman). Ou seja, não é para deixar um monte de porcarias perto de você e ficar sofrendo para evitá-las. É para fugir correndo mesmo.

E tudo isso foi somente a ponta do iceberg. Como você pode imaginar, o assunto é muito vasto e, se insistíssemos nesse discurso nutricional, certamente comprometeríamos o desenvolvimento de nossa leitura.

Fica apenas o gostinho – saudável – de que há mais informação para saborear. E, é claro, nos informativos do Amplitudo que chegam ao seu email o assunto sempre estará em pauta.

 

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