A Única Condição (p. 7)

 

A ÚNICA CONDIÇÃO

Chegamos.

Nada como uma boa preparação. Sei que você já é capaz de sentir o conceito nascendo em sua mente.

Vamos apenas tentar inseri-lo em uma definição sucinta, daquelas que, se rimarem, melhor ainda:

Desempenho inigualável, desatino tolerável.

Rimou.

E não venha me dizer que está decepcionado por ter chegado a uma frasezinha de quatro palavras após ler todo esse texto. Se você não conseguir enxergar o valor embutido nesta frase, jamais conseguirá liberdade no seu trabalho, pois a única condição para você desfrutar da liberdade que deseja em seu trabalho é ser o melhor naquilo que faz.

É isso mesmo. Porque sabe o que vai acontecer quando você começar a querer mais liberdade no seu trabalho sem possuir o tal desempenho inigualável? Vão trocar você por outro que não faça tanta questão assim de liberdade.

Por outro lado, se seu desempenho for inigualável, estou certo de que seus desatinos serão tolerados. E não pense que levanto essa bandeira sozinho. Dá uma olhada na exata transcrição de um trecho do livro Vá Direto ao Assunto, de Stuart R. Levine:

“Pessoas difíceis frequentemente têm seu comportamento tolerado por serem excelentes no que fazem.”

É por isso que House pode ser um viciado e gritar com subordinados e superiores, pode tentar seduzir todas as mulheres do hospital, pode invadir salas com cirurgias em andamento só para tripudiar sobre um colega, pode roubar a comida das outras pessoas, pode trabalhar de jaqueta e tênis, pode trabalhar em casa, pode não trabalhar… É porque o que ele precisa fazer é salvar vidas e ninguém salva vidas como ele.

É por isso que Michael Jackson foi capaz de acumular milhões em dívidas e continuar gastando uma barbaridade, fazer diversas plásticas estranhíssimas, casar e descasar conforme lhe desse na telha, segurar bebês do alto de uma varanda de hotel e ter um carrossel no quintal de casa… É porque o que ele precisava fazer é ser um astro da música pop e ninguém era um astro como ele.

É por isso que Romário participava de treinos só quando tinha vontade, causando polêmica entre os outros jogadores, dificultando a vida do técnico e sendo condenado por comentaristas e jornalistas. É porque o que ele precisava era fazer gols e, em 1994, ninguém fazia gols como ele.

Desempenho inigualável, desatino tolerável.

Obs.: Por favor, não pense que estou incentivando a indisciplina, a falta de decoro no ambiente de trabalho ou o arremesso de bebês. Nosso ponto central é a liberdade. Se você tem um desempenho inigualável e pode fazer o que bem entender, então, que seja algo de bom. O médico, o astro e o jogador foram apenas exemplos para ilustrar a Única Condição. Em minha opinião, estão longe de serem exemplos de comportamento ou de respeito às pessoas.

Agora que você já foi apresentado ao conceito, vai percebê-lo ocorrendo com frequência. Veja se no seu trabalho mesmo isso já não acontece. Procure observar se não há uma pessoa meio difícil (ou, pelo menos, excêntrica) que precisa ser tolerada porque seus resultados são insuperáveis.

Procure observar, também, as opiniões de autores consagrados acerca deste assunto, que nada mais é do que a nossa tão conhecida empregabilidade. Para auxiliar a sua busca, segue uma pequena enxurrada de referências (grifos meus):

Veja novamente Stuart Levine em Vá Direto ao Assunto: “Você se tornará muito mais eficaz se aperfeiçoar aquilo em que já é bom.”

E mais Dan Miller: “Encontre a área em que você dá um show, com poucos concorrentes. Assim, vai se destacar da mediocridade e experimentar um sucesso incomum.”.

Joel Comm, em Cash: “Precisamos reconhecer as características que nos diferenciam e projetá-las para que sejamos instantaneamente reconhecidos e jamais esquecidos.”.

Malcolm Gladwell, em Outliers: “Se o profissional estiver disposto a desenvolver sua aptidão, o sistema o recompensará.”.

P.T. Barnum, em Como fazer fortuna em pouco tempo: “Esses homens, que têm inteligência e experiência, são os mais valiosos, e não se deve facilmente dispensá-los; é melhor, tanto para eles quanto para nós, conservá-los, dando-lhes, de vez em quando, um aumento razoável nos ordenados.”.

Gustavo Cerbasi e Christian Barbosa, em Mais Tempo Mais Dinheiro: “Aproveite seu tempo para fazer de você uma pessoa diferente do rebanho.”.

Clóvis de Barros Filho, em A vida que vale a pena ser vivida: “Viver de maneira minimamente eficaz não é propriamente uma escolha. É condição de aceitabilidade.”.

Revista Você S/A edição 149 (Nov/2010): “O importante é entender em quais aspectos você se sai naturalmente melhor e esforçar-se para aprimorá-los.”.

David Wood, em Get Paid for Who You Are: “Apenas concentre-se no seu diferencial. Em outras palavras, por que você?”

* * *

Percebemos que diferentes autores falam mais ou menos as mesmas coisas e quanto mais você ler, mais isso ficará evidente.

A razão é simples. Eles falam as mesmas coisas porque são as coisas que dão certo. E os autores estão aí para provar. Procure pesquisar a vida daqueles que compartilham esses pensamentos. Você encontrará, em abundância, indicadores como sucesso, realização e dinheiro. Encontrará também um bocado de liberdade.

Você pode até dizer que a ideia presente na Única Condição é amplamente questionável ou, ao menos, muito relativa, pois que ninguém é insubstituível. Bem, sou obrigado a concordar que, se tomarmos o mundo inteiro como amostra, encontraremos muitas pessoas capazes de fazer o que outras fazem.

Mas – e isso é muito importante – pense pelo lado do seu “chefe”. Ele não conhece o mundo inteiro. E ele, como qualquer pessoa, gosta das coisas funcionando. Você não precisa ser insubstituível em relação ao mundo inteiro, mas apenas na cabeça daquele que tem o poder de substituir você.

Não faz sentido? Pense comigo. Se tudo estiver funcionando bem e você for o responsável por isso, na mente do seu chefe você é insubstituível. Isso basta.

Acredite, isso basta. Tem bastado há anos para os programadores que mencionei. Quer saber a minha verdadeira opinião a respeito de existirem ou não programadores melhores que eles? É claro que existem. E possivelmente eles estejam trabalhando em empresas gigantes nos Estados Unidos e ganhando salários milionários.

Mas essa não é a realidade dos chefes desses programadores. Na cabeça desses empresários, os profissionais que eles têm em mãos são a melhor opção que eles conseguem conceber. E o mesmo há de acontecer a todos que trilharem o caminho da competência, procurando, a cada dia, manterem-se como a melhor opção para aqueles que os empregam.

Acabamos de citar o livro Como fazer fortuna em pouco tempo. Trata-se de um pequeno e empoeirado tesouro (minha edição é de 1947), e o fato de ele ser antigo evidencia que mesmo naquela época a carência de bons profissionais já se fazia sentir, como percebemos por este trecho, onde um jovem parece zombar de um velho advogado:

– Ainda não me decidi qual a profissão que hei de adotar. Na vossa há gente demais, não?

Ao que o experiente profissional prontamente responde:

– O andar térreo está apinhado, mas nos andares superiores há muito espaço.

Fico a pensar: em qual andar você pretende trabalhar?

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