Os Tijolos - Família Mudança

Ciclo

1. Série de fenômenos que se sucedem numa ordem determinada.

2. Biol. Ritmo de sucessão ou repetição de um fenômeno.

3. Fís. Qualquer transformação cujo estado inicial é igual ao final.

Você podia ter parado de ler a qualquer momento. Agora não pode. Este tijolo é de vital importância e sua essência deve fazer parte da alma de todo amplituder.

Para começar, separaremos os ciclos em dois grandes grupos: sem incremento e com incremento.

No ciclo sem incremento, o estágio final é exatamente o ponto inicial (como nos mostra a terceira definição acima, emprestada da física). Trata-se, neste caso, apenas de uma repetição. É o que ocorre com o pêndulo de um relógio com seu movimento para lá e para cá. Após o término do ciclo, é como se nada tivesse acontecido.

No ciclo com incremento, após um período completo, volta-se a uma situação cujas características são iguais às do início do ciclo, mas cujo conteúdo não é. Um exemplo seria o condicionamento físico em uma academia de ginástica. Você realiza os mesmos treinos (ciclos), mas consegue, progressivamente, aumentar a carga dos aparelhos.

Vamos voltar um pouco à época da escola para melhor ilustrar essa tão importante questão.

Em matemática, você deve ter estudado progressão aritmética e progressão geométrica. Na progressão aritmética (PA), os números são somados, enquanto que na progressão geométrica (PG), multiplicados.

Assim, a sequência “2 2 2 2 2” resultaria em 10 em uma PA (2+2+2+2+2 = 10), enquanto que, em uma PG, resultaria em 32 (2x2x2x2x2 = 32).

Perceba que não faz sentido compararmos duas coisas distintas em bases diferentes, e estamos usando a soma em uma sequência e a multiplicação na outra. A comparação das duas sequências usando o mesmo critério – no caso, a soma – nos dará a imagem de que precisamos para entender a diferença entre os ciclos.

PA: 2+2+2+2+2 = 10

PG: 2+2+4+8+16 = 32

Agora você consegue ver claramente que, em relação à parcela adicionada a cada operação, a PA é um ciclo de soma sem incremento, pois a cada adição, a parcela permanece a mesma, enquanto a PG é um ciclo de soma com incremento, pois cada nova parcela é maior que a anterior. Por isso que, uma vez estabelecida uma PG, a PA nunca mais a alcança.

Nunca mais.

É inegável que há progresso em uma PA, porque conforme o tempo passa, o montante geral aumenta. Há, então, um acúmulo que nós chamaremos de vantagem cumulativa.

Em uma PG, no entanto, conforme o tempo passa não cresce apenas o montante final, mas a parcela também. Temos o que poderíamos chamar, então, de vantagem cumulativa progressiva.

Obs.: Se você não está gostando muito dessa parte do texto, faça um pequeno esforço, porque tudo isso é extremamente importante, além de necessário para que você compreenda o Efeito Matheus, cuja explicação foi prometida desde A Estrela e se dará até o fim desse tijolo.

Voltemos aos ciclos, agora, para dividi-los em três categorias: ciclo de estagnação, ciclo de crescimento (ou círculo virtuoso) e ciclo de declínio (ou círculo vicioso). Destes, o ciclo de estagnação é o único não incremental, ao contrário dos ciclos de crescimento e declínio, que possuem incremento (positivo e negativo, respectivamente).

Exemplo de ciclo de estagnação. Compare duas pessoas: você, que sabe ler, com uma pessoa que não sabe. Você vê um cartaz anunciando uma palestra sobre “a importância de ler para crescer”, resolve participar e descobre muitas ideias interessantes que ajudam no seu crescimento. O ciclo começou no momento em que você viu o cartaz e terminou com o conhecimento que adquiriu após a palestra.

Por outro lado, a pessoa que não sabe ler não consegue sequer identificar que o cartaz está falando exatamente sobre a importância de ler para crescer.

Dias depois, você vê outro cartaz (novo ciclo), sugerindo outro tema; decide participar e, novamente, conquista conhecimentos para a sua vida. Para a outra pessoa, ao ver esse mesmo cartaz, nada acontece. Essa outra pessoa está vivendo um ciclo de estagnação. A cada novo cartaz (novo ciclo), ela volta ao estado anterior sem qualquer incremento: é como se nada tivesse acontecido.

Outro exemplo: a dificuldade do primeiro emprego. Quantas pessoas não passaram pela situação de serem recusadas por não terem experiência. Perceba o ciclo de estagnação: a pessoa precisa do emprego para adquirir experiência e precisa da experiência para adquirir o emprego. A cada nova entrevista de emprego (novo ciclo), ela está exatamente do jeito anterior: sem experiência. É como se nada tivesse acontecido.

Último exemplo, agora de uma pessoa empregada que, a cada mês, gasta exatamente todo o dinheiro que ganha, nem mais, nem menos. Ela não contrai dívidas, mas não amplia seu patrimônio – ciclo de estagnação. A cada novo salário (novo ciclo), ela se encontra exatamente no mesmo ponto em que se encontrava no mês anterior. É como se nada tivesse acontecido.

– Álvaro, acho que já entendi…

Certo. Então, passemos agora ao ciclo de crescimento, ou círculo virtuoso. Nessa situação, a cada novo ciclo o seu “zero”, ou seja, o ponto onde seu novo ciclo se inicia, está um pouco acima do que estava no início do ciclo anterior – por causa do incremento gerado.

Exemplo. Você mora em uma casa própria e, após muitas economias, finalmente consegue adquirir o seu primeiro imóvel extra para obter renda proveniente de aluguel. Percebendo vantagem nesse arranjo, você deseja repetir a dose. Bem, o seu segundo imóvel extra (novo ciclo) poderá ser adquirido mais facilmente, pois, para comprá-lo, você poderá usar a renda gerada pelo primeiro imóvel alugado, vantagem que você não tinha no ciclo anterior.

O terceiro imóvel poderá ser adquirido ainda mais rapidamente, pois poderá ser usada a renda combinada do aluguel dos outros dois – vantagem cumulativa progressiva. Se você continuar assim, e se viver bastante, chegará o dia que a cada mês você comprará um novo imóvel só com receitas de aluguel. Depois, passará a comprar dois imóveis por mês, depois, um imóvel novo por dia… (tem que viver bastante mesmo, né?)

Repare como o conceito de manutenção anteriormente estudado é imprescindível para o estabelecimento de um ciclo de crescimento. Basta imaginar outra pessoa que, possuindo um imóvel extra, em vez de fazê-lo gerar renda, vende-o para comprar um belo carro. O carro não gera renda (pelo contrário, gasta), além de depreciar o próprio valor com o tempo. Assim, o ciclo de crescimento não pode ser estabelecido.

Obs.: Um pequeno segredo. No ciclo de crescimento está implícita a ideia de levar a manutenção a um nível de automatismo, de forma que o ciclo possa ser alimentado com um mínimo de trabalho.

Outro exemplo de ciclo de crescimento. Imagine que, no geral, você possua bom conhecimento em um segundo idioma. Isso lhe permite, por exemplo, aproveitar uma oportunidade que outra pessoa, sem aquele conhecimento, não consegue aproveitar, como, por exemplo, um curso oferecido neste outro idioma. Ao aproveitar essa oportunidade, você aprende diversas coisas, além de melhorar seu conhecimento no idioma em questão. E com os novos conhecimentos adquiridos, você se torna mais apto a aproveitar as próximas oportunidades – ciclo de crescimento.

Obs.: Repare como o exemplo acima é exatamente idêntico ao primeiro exemplo que oferecemos para ilustrar o ciclo de estagnação.  Lá, a pessoa que não sabia ler vivia o ciclo de estagnação, enquanto você, o de crescimento.

Vamos agora ao ciclo de declínio, ou círculo vicioso. Nessa situação, a cada novo ciclo o seu “zero” se encontra um pouco abaixo de onde estava no início do ciclo anterior. Matematicamente falando, há incremento, só que negativo; ou seja, a cada novo ciclo, há um decréscimo, uma diminuição do conteúdo.

Um bom exemplo de ciclo de declínio é o sedentarismo. O corpo humano possui a habilidade de realizar diversos movimentos e essa habilidade é ampliada – ou, ao menos, mantida – com a própria prática dos exercícios.

A cada novo dia (novo ciclo) você tem a opção de fazer algum tipo de exercício – ou não. Quando nada faz, seu corpo perde capacidade de se exercitar para o dia seguinte. Uma perda mínima, mas real. Com o passar do tempo, você se torna cada vez menos capaz de realizar exercícios complexos e, depois, menos capaz de realizar exercícios simples, o que configura um evidente ciclo de declínio.

Obs.: É por isso que os atletas treinam constantemente. Eles sabem que, se pararem durante um tempo prolongado, ao fim deste período estarão em condições inferiores às que estavam quando pararam.

Estudar (para identificar) os ciclos é uma tarefa muito importante, entre outras razões, por causa de uma característica comum a todos os ciclos: sua natural tendência à permanência.

Obs.: Isso contraria o que dizemos anteriormente no tijolo manutenção. Resgatando: “se tudo está sempre mudando, nada é, naturalmente, permanente.”. Se lhe traz conforto, você pode considerar o conceito de ciclo como uma exceção a essa regra. Mas lembre-se, estamos falando apenas do conceito, pois o produto dos ciclos incrementais está, de fato, em constante mudança.

Normalmente, um ciclo alimenta a si próprio e é dessa forma que ele se perpetua. Assim, qualquer uma das três tendências – estagnação, crescimento ou declínio – só pode ser rompida através de um agente externo.

Rompe-se o ciclo de estagnação da pessoa que não sabe ler ensinando-a a ler.

Rompe-se o ciclo de estagnação da falta de experiência no primeiro emprego indicando o aspirante a buscar uma vaga em um setor que não demande experiência, ou junto a um parente que possa fazer o favor de empregá-lo por um tempo (ou por um salário muito abaixo do mercado), ou capacitando-o intelectualmente para compensar a falta de experiência em uma entrevista de emprego (todos estes são fatores externos ao ciclo).

Rompe-se o ciclo de estagnação da pessoa que gasta tudo o que ganha instruindo-a a economizar.

Rompe-se o ciclo de declínio do sedentarismo fazendo exercícios.

E, apesar de você não desejar romper ciclos de crescimento, é importante mantê-los. E para mantê-los, você deve saber o que os ameaça. Lembre-se do que já discutimos: conhecer para combater.

Rompe-se o ciclo de crescimento dos imóveis com uma supervalorização do setor que dificulte novas aquisições, ou com a redução generalizada da renda das pessoas, impedindo-as de pagar prontamente os alugueis.

Rompe-se o proveitoso ciclo de crescimento do conhecimento e do aproveitamento de oportunidades entregando-se a uma vida de ociosidade e desinteresse. Em outras palavras: rompe-se a virtude entregando-se a vícios.

É importante perceber que o agente externo necessário para transformar ciclos de estagnação ou de declínio em ciclos de crescimento é externo ao ciclo, não a você. Através da sua atitude – e somente através dela – você conseguirá criar o fator externo para romper qualquer ciclo no qual se encontra. A responsabilidade é sempre sua.

E, conforme anunciado, após toda essa explicação acerca dos ciclos, estamos aptos a compreender o que é o Efeito Matheus.

O sociólogo Robert Merton cunhou a expressão Efeito Matheus com base neste trecho da Bíblia (evangelho de Matheus 13:12 e 25:29): “Ao que tem, se lhe dará e terá em abundância, mas ao que não tem será tirado até mesmo o que tem.”

Fica possível, agora, correlacionar o comportamento dos ciclos ao Efeito Matheus de Robert Merton, que só ocorre devido à característica de vantagem cumulativa progressiva. A cada nova vantagem, aumenta a diferença entre quem possui e quem não possui a vantagem. E aumenta progressivamente. Em outras palavras, a vantagem se amplia por si mesma, pois o detentor da vantagem a utiliza para adquirir outras.

Finalmente, dezenas e dezenas de tijolos depois, podemos elucidar o sentido do que você leu em A Estrela e que nós batizamos de Regra de Ouro do Amplitudo: aumentar o que aumenta, diminuir o que diminui.

Em miúdos: você precisa ampliar a ocorrência de situações que elevam suas chances de êxito enquanto reduz a ocorrência das que podem limitar suas chances. Aumentar o que aumenta, diminuir o que diminui.

Finalizaremos este longo tópico com uma síntese.

A Regra de Ouro do Amplitudo está baseada nas propriedades dos ciclos:

A – A autoalimentação.

B – A necessidade de interrupção por um agente externo.

C – O Efeito Matheus.

Ao adotar atitudes que produzam ciclos de crescimento, você estará automaticamente interrompendo ou um ciclo de declínio ou um ciclo de estagnação. Sua atitude é, portanto, o agente externo (B) promovendo a interrupção no ciclo que, do contrário, se perpetuaria automática e eternamente (A). Ao fazer isso, você conquistará vantagens em série (cumulativas), que possuem o benefício adicional de auxiliar na conquista das vantagens seguintes, tornando o processo progressivamente mais fácil. Adquirindo vantagens cumulativas progressivas, você estabelece uma velocidade de crescimento maior – e cada vez maior – em relação aos outros (C).

Tem uma carinha de Única Condição isso, não tem?


Próximo Tijolo: Modo.

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