Os Tijolos - Família Mudança

Garantia

1. Ato ou efeito de garantir(-se).

2. Prova, segurança.

Garantir:

1. Afirmar como certo; asseverar, certificar.

2. Tornar certo, seguro.

Caso você não tenha reparado, o Murphy dessa citação inicial é o mesmo das curiosas “Leis de Murphy”. Trata-se do pessimista mais simpático que eu já conheci…

Quando falamos sobre a aversão que as pessoas têm à mudança, estávamos falando da necessidade de garantia que, instintivamente, todos temos. Veja a segunda definição: segurança. A ausência de mudança nos dá uma confortável previsibilidade: a garantia de sabermos o que acontecerá. Movidas por essa necessidade, as pessoas consultam videntes, búzios, cartas, astros; querem garantir maior controle sobre suas próprias vidas antecipando o futuro. Em outras palavras: querem garantias. E, ao menos para mim, isso faz todo o sentido: quanto mais previsibilidade, melhor.

Isso faz da garantia algo bastante interessante, exceto por um pequeno problema: ela não existe. Ninguém pode lhe garantir nada. Um bom mestre pode oferecer o melhor ao seu discípulo, ampliando suas chances de êxito. Quem pode, no entanto, garantir que isso ocorrerá? Ninguém.

Dizem que não há sentimento mais forte que o amor de uma mãe pelo seu filho, mas sabemos que, ainda assim, mães abandonam seus filhos. Onde está a garantia? Se este tipo de coisa acontece entre uma mãe e um filho, você ainda pensa em conseguir garantias com o seu patrão ou com o governo? Muda a política da empresa ou mudam as diretrizes orçamentárias do país e lá se foram suas garantias.

Entre os diversos problemas que possui a nossa sociedade está a total ausência de instrução oficial (lê-se: educação na escola) relativa a alguns assuntos, sendo um deles a garantia. Perceba como as pessoas crescem com noções erradas dentro de suas famílias: “Ah, agora meu pequeno Lucas já pode casar, pois conseguiu um emprego!” – diz a mãe toda orgulhosa.

Que sentido tem isso, mamãe? Diga-me com sinceridade, se o seu pequeno Lucas for demitido três meses depois, o que fará? Pedir o divórcio?

Uma pequena e inconformada digressão começa agora.

Sempre me incomodou essa noção de casar por ter arranjado um emprego. Fico imaginando a hipotética situação de um chefe de família ao longo de sua vida profissional. Quando está empregado, mantém seu lar. Quando desempregado, despacha cada um para um canto e volta para a casa dos pais. Empregou-se novamente? Chama a galera de volta…

Se essa ideia lhe parece um pouco absurda, perceba que sua essência é a mesma de casar-se por estar empregado. Afinal, que lógica há nisso? Da primeiríssima vez (o ato do casório), você condicionou sua vida a dois a ter um emprego, mas nos revezes subsequentes não pode fazer a mesma coisa? Fica complicado pensar em costumes e em lógica ao mesmo tempo, não é?

Minha recomendação: não misture as coisas. Case-se porque você sente que chegou o momento, porque gosta da outra pessoa e acredita possuir condições (incluindo as financeiras, mas não somente estas) para viver essa nova vida. Se apenas o fato de ter um emprego fosse garantia, casais onde ambos se encontram empregados jamais se separariam. E essa não é a realidade. Fim da digressão.

Essas ideias de falsas garantias constroem seres humanos menos preparados para enfrentar os desafios e as surpresas da vida. Mas nem tudo está perdido. Se a garantia absoluta não existe, há algo muito perto disso: a maximização da permanência. É com essa ideia que você irá até o fim deste tópico.

Se não existem garantias, certamente existem níveis diferentes de risco, de forma que não é procurando garantias, mas procurando controlar os riscos que você se aproximará do conforto que uma utópica garantia poderia lhe proporcionar.

Falemos de dinheiro, item mais que incluso no desejo de garantia de quase todo mundo. Para tal, retomaremos um assunto abordado em A Única Condição.

Os ricos empresários não têm nenhum patrão pagando aposentadoria para eles. Ainda assim, possuem muito dinheiro e, normalmente, suas aposentadorias são fartas.

Qual o segredo? Apesar de não ter alguém garantindo sua aposentadoria, eles possuem vantagens como (1) poder sobre as decisões que influenciam sua própria vida e (2) conhecimento a respeito de como funciona o dinheiro.

É por isso que, em nosso primeiro texto, mencionei os benefícios de trabalhar em uma empresa pequena. Mesmo que você não seja registrado e não possa contar com todos os “benefícios”, você está próximo do grupo de decisão. Desta forma, ainda que não seja o dono, você se aproxima das garantias que os ricos possuem (empresas geradoras de renda) em vez das garantias que os menos ricos possuem (seu dinheiro guardado com o governo).

Não se iluda: sempre haverá risco, seja em uma empresa grande, seja em uma pequena pois, como dizem os bem sucedidos, sem risco não há chance de sucesso. Tanto é que, alguns parágrafos atrás, não falamos em evitar riscos, mas em controlá-los. Isso se consegue através de decisões acertadas.

Você já deve ter ouvido a expressão “vender o almoço para comprar a janta”, não ouviu? Esta expressão possui certa graça pelo absurdo lógico que ela encerra: literalmente falando, não faz qualquer sentido desfazer-se do almoço para garantir a janta, pois a fome só aumentará.

No entanto, financeiramente falando, milhares de pessoas fazem isso todos os dias quando pagam a fatura do seu cartão de crédito na opção pagamento mínimo. E o pior: estão vendendo um almoço que custa R$ 10,00 para tentar comprar um jantar por R$ 45,00.

Desabafo. Se o governo quisesse tanto o seu bem estar, ele proibiria as instituições financeiras de oferecer o pagamento mínimo da fatura do cartão de crédito, pois somente os ignorantes em finanças se utilizam desse recurso, sendo, portanto, um instrumento de manutenção dos infelizes na condição onde eles se encontram. Não é facilitação, que seria bom, nem educação, que seria muito melhor. É, de fato, um novo e disfarçado sistema de escravidão. E se pensa que estou exagerando, assista a Zeitgeist – Addendum, o segundo de uma série de documentários. Depois, se quiser, pode me mandar um e-mail. Você ouviu meu desabafo, eu ouvirei o seu…

Continuando com nossa centelha de esperança, resgatemos o tijolo adaptação, onde discutimos a ideia de alternativa, cuja definição é: opção entre duas ou mais coisas.

Agora preste atenção à seguinte frase: uma vez que não existe garantia absoluta, as situações que mais se aproximam de uma garantia absoluta são aquelas que apresentam alternativas.

Garantia de emprego? Absoluta? Não existe. Um acidente pode deixá-lo inválido para o resto da vida. Mas, sejamos menos catastróficos. Você há de concordar que um profissional constantemente assediado por meia dúzia de empregadores possui, em caso de demissão, mais chances de estar novamente empregado – e em menos tempo – do que um profissional que precisa lutar bravamente apenas para conseguir se manter onde está.

Garantia de moradia? Absoluta? Não existe. Um terremoto pode acabar com tudo da noite para o dia. Mas, enquanto não ocorrer o terremoto, uma pessoa que tenha quatro ou cinco imóveis alugados possui muito menos chance de ter que procurar abrigo sob um viaduto.

Garantia de renda? Absoluta? Não existe. O próprio dinheiro pode perder seu valor de formas imprevisíveis caso a sociedade se transforme profundamente. Mas, na persistência de um formato capitalista como o que vivemos hoje, está mais apto a se manter tranquilo aquele que possui diversas fontes de renda e perde uma delas do que aquele que, possuindo apenas uma única fonte, perde uma delas

Creio ter ficado claro, pelos exemplos acima, o papel que a posse de alternativas exerce na ampliação da sua segurança – consequentemente, na constituição de qualquer coisa que se aproxime de uma garantia.

É verdade que há outras influências também. Por exemplo, não restam dúvidas de que a posse de conhecimento aumenta as “garantias” que se pode ter na sua vida, mas trataremos desse assunto futuramente, quando o conhecimento (uma das pontas da Estrela) for o objeto central de nossa atenção.

Por enquanto, e para assentar de forma definitiva este importantíssimo tijolo em nossa construção, prefiro deixá-lo com uma ideia sobre a qual você possa pensar bastante e, dessa forma, acelerar sua marcha rumo à Única Condição: as verdadeiras garantias estão sempre atreladas ao conteúdo.

Ou seja, ser útil é a única garantia.


Próximo Tijolo: Ciclo.

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