Os Tijolos - Família Realidade

Realidade

1. Qualidade de real.

2. Aquilo que existe efetivamente; real.

Consciência

1. (Filos.) Atributo altamente desenvolvido na espécie humana e que se define por uma oposição básica: é o atributo pelo qual o homem toma em relação ao mundo aquela distância em que se cria a possibilidade de níveis mais altos de integração.

2. P. ext. Conhecimento desse atributo.

3. Conhecimento imediato da sua própria atividade psíquica ou física.

4. Conhecimento, noção, ideia.

Este tijolo está, sem dúvida, na lista dos TOP 20.

Aliás, convido-o a eleger sua própria lista dos “vinte mais” (confesso que tentei uma lista com dez, mas não consegui – muita coisa importante ficava de fora). Depois, se quiser compartilhar, terei prazer em receber seus comentários.

Agora, de volta ao assunto.

Após a explicação que oferecemos para o “tijolo siamês” moderação-prudência, não é necessário todo aquele discurso novamente. Basta esquematizar.

A realidade tem seu oposto na idealização. O par teoria e prática é outra forma de dizer a mesma coisa (teoria = idealização; prática = realidade). Consciência, por sua vez, tem oposto em ilusão.

Uma boa noção da realidade permite evitar uma série de enganos, pois, na opinião de alguns, a parte difícil de um problema não é resolvê-lo, mas identificá-lo.

E se você concorda com isso, concordará também que tomar consciência já é tomar providência.

Mais uma vez – assim como ocorreu em cenário – algumas pessoas têm tremendas dificuldades com essa habilidade. Só que, aqui, ocorre exatamente o inverso.

Enquanto as pessoas incapazes de conceber cenários assim o são por só conseguirem administrar o que existe de fato, os incapazes de lidar com a realidade assim o são pois não conseguem lidar com o que existe, e isso porque (1) idealizam algo em suas mentes e passam a considerar aquilo como realidade ou (2) estão sendo enganadas.

Ambos os casos são terríveis. Vamos examiná-los mais de perto.

O primeiro caso consiste em uma negação. A realidade existe, mas a pessoa não consegue percebê-la ou, se percebe, não consegue aceitá-la, passando a idealizar situações, não para imaginar uma linha de ação (como em cenário e em modelo), mas para fugir da tarefa de encarar a realidade – situação que costuma denunciar a ausência de outro tijolo já visto, a responsabilidade.

Exemplo: um jovem que está constantemente sem dinheiro porque gasta demais.

Suas idealizações: “É normal começar com pouco”; “Jovem com dinheiro só filho de milionário”; “Meus pais e meus avós passaram pela mesma coisa”; “Terei uma situação melhor quando ficar mais velho”; “Tenho que aproveitar a vida enquanto sou jovem”.

Agora, a simples realidade: ele gasta demais.

Em vez de ficar concebendo ideias tortas que justifiquem sua condição, muito mais simples seria o jovem encarar a realidade e tomar a única providência cabível: gastar menos.

Normalmente, combate-se a idealização com a razão. Pensemos, então. Quando o jovem quase acertadamente conclui, pelo histórico familiar, que as condições melhoram conforme a idade chega, ele (1) se esquece de observar se seus pais e avós não gastavam também demais na juventude ou (2) se esquece de considerar os sessentões e os aposentados que passam por extremas dificuldades financeiras, o que nos mostra que, para enriquecer, não basta envelhecer.

A idealização pode ser tão forte que persiste mesmo quando os fatos apontam o erro. Repetidas vezes pude observar pessoas que planejam realizar um determinado número de tarefas em um certo tempo, mas não conseguem concretizar nem a metade.

Tomemos como exemplo uma série de providências domésticas em um sábado de manhã.

Quando muito, existe uma lista das atividades, mas isso é raro. Ainda mais raro é planejar a sequência ideal para melhor aproveitar o tempo e o percurso (logística). Muito mais raro ainda é prever o tempo necessário a cada uma das atividades contando o tempo do deslocamento entre elas, que pode ser imenso dependendo de onde você mora. Resultado: a conta não fecha. Tudo funcionaria na teoria, mas na prática

Então você pensa que a pessoa aprendeu e, na primeira oportunidade, lá está ela fazendo a mesma coisa. Perceba que, neste ponto, não é mais a percepção da realidade que está faltando, mas força de vontade (e um pouquinho de cérebro?), porque não é feita qualquer análise dos insucessos na intenção de melhorar o desempenho. A idealização está tão estabelecida que cega a pessoa, fazendo-a insistir em condutas que não funcionam.

Passemos, então, ao segundo caso, a ilusão, que é quando você não possui consciência da realidade. Não é, portanto, uma questão de querer se enganar, como na idealização, mas de já estar enganado. Não se resolve com razão, pois não há elementos para se pensar adequadamente. Esse problema só se resolve com vontade de adquirir conhecimento para avaliar se o que lhe é apresentado realmente corresponde à realidade.

Exemplo deste segundo caso: o filme Matrix.

A ilusão: um mundo normal como sempre foi, cheio de pessoas com suas atividades do dia a dia.

A realidade: nada disso existe. Todas as percepções de um mundo “normal” são implantadas na mente das pessoas, que estão vivendo como que adormecidas em condições específicas que as mantém desse jeito apenas pelo interesse de uns poucos que se apoderaram de tudo.

Obs.: Apesar de ser um exemplo tirado de um filme de ficção, ele bem se aplica à nossa sociedade. Basta pensar na realidade acima e na política governamental de alguns países que você perceberá não haver muita diferença…

Como dissemos, a solução para esse caso é o conhecimento. No filme, quando o personagem fica sabendo da possibilidade de estar vivendo uma grande ilusão e lhe é dada a opção de conhecer a verdade ou de esquecer tudo, ele decide conhecer a verdade. Essa, infelizmente, não é a postura de algumas pessoas ao perceberem que estão sendo iludidas.

Uma dúvida que tenho: a superstição. Esse comportamento, embora possa ser classificado como ilusão, parece reclamar para si uma categoria própria, de tão estranho que é. Diga a verdade: você já sentiu vontade de endireitar seu chinelo virado com receio de que sua mãe pudesse morrer? :-)

Seja pela idealização, seja pela ilusão, saiba que o seu desenvolvimento pessoal será prejudicado enquanto você não tomar providências para reconhecer e aceitar a realidade.

É verdade que, se for o caso, você pode lutar para mudar a realidade com a qual não concorda. É claro que pode. O que você não pode é viver como se a mudança já tivesse ocorrido quando ainda não ocorreu, da maneira como fazem as pessoas idealistas ou alienadas.

Falamos há pouco sobre a oposição. Tomemos a relação entre mestre e aluno, ou entre líder e liderado, para mais uma breve análise.

Algumas pessoas não aceitam a condição de liderados, como se houvesse demérito ou humilhação em não ser o líder. Não aceitar essa condição é a mesma coisa que não aceitar a condição de aluno quando se tem cinco anos de idade, querendo ensinar o professor em vez de aprender com ele.

Trata-se da realidade, nada mais. Não é uma força opressiva, não é injustiça; apenas é como as coisas devem ser. Se, em dada circunstância, existem pessoas com diferentes níveis de capacidade, quem tem menos segue quem tem mais e com ele aprende, porque o fluxo natural é sempre de onde há mais para onde há menos.

Uma última reflexão: encontramos com frequência aqueles que preferem fugir da realidade porque ela é muito desagradável. Como dizem por aí, “a verdade dói”. Mesmo assim, recomendo que você fique com a realidade. Sentir esta dor ainda é melhor do que tentar evitá-la pela ilusão, pois a dor de quem é consciente uma hora passa; a do alienado, não, pois ele desconhece a causa.

Lembre-se de que já falamos antes: conhecer para combater. Em todas as relações – homem e mulher, pais e filhos, chefes e empregados – as coisas começarão a melhorar quando você parar de agir de acordo com a maneira como você gostaria que as coisas fossem e passar a agir de acordo com a maneira como as coisas realmente são.


Próximo Tijolo: Clareza.

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