A Única Condição (p. 4)

 

OBJETIVOS

Vamos à praia?

Sabe quando você está na praia no fim do ano e começa a armar um temporal no meio da tarde?

Quando isso acontece, não raro antes que o dia termine o céu se abre em um espetacular pôr-do-sol. Se nunca reparou nisso, sugiro que o faça. É um dos diversos prazeres que a natureza nos oferece. E, assim como o Amplitudo, é de graça.

A questão aqui não é exatamente o romântico pôr-do-sol, mas o processo de transformação de um céu cinzento e nebuloso em outro, límpido, onde tudo pode ser visto com maior clareza.

Outro exemplo? Sabe quando você está dormindo, sonhando com as coisas mais loucas? Enquanto sonha, não questiona a veracidade dos acontecimentos, certo? Por mais estranho que pareça, tudo é real. Mas há um momento em que você tem certeza de que tudo aquilo era um grande devaneio. Que momento é esse?

É quando você acorda.

E isso porque, quando acorda, você amplia seu nível de percepção. Muito simples: quando está dormindo, percebe menos; quando acorda, percebe mais. E percebe, então, que estava sonhando.

A partir desse exemplo, podemos conceber o modelo de uma escada – cujos degraus são os diferentes níveis de percepção.

Vejamos. Imagine que, do ponto onde você está dormindo para o ponto onde está acordado, você tenha subido um degrau. Consegue pensar na possibilidade de subir outros degraus mesmo depois de acordado?

Sem dúvida que é perfeitamente possível, porque, embora você já esteja acordado, literalmente falando, pode ainda estar “dormindo” em relação a diversas coisas. Há pessoas, por exemplo, que conseguem perceber facilmente quando alguém está mentindo. Outras não possuem essa habilidade. Apesar de estarem todas acordadas, umas parecem, de uma certa forma, mais despertas que as outras.

Ocorre que, nesse exemplo, especificamente no quesito capacidade de detectar mentiras, as pessoas não se encontram no mesmo degrau da escada. Uma delas tem maior percepção e, por isso, é mais eficiente, possui mais vantagens e corre menos riscos que a outra. Vamos isolar a frase para fixar bem:

Quem tem mais percepção é mais eficiente, possui mais vantagens e corre menos riscos.

Agora, pense comigo: quantos degraus não existiriam para serem subidos? E em quantas diferentes áreas do conhecimento esses degraus se apresentam? Lembre-se de que a pessoa que dorme não sabe que está dormindo, e não percebe que existe um degrau acima (o de estar acordada). De forma análoga, você pode, uma vez acordado, imaginar que está vivendo na plenitude das suas percepções.

Mas pode ser que não esteja.

A pessoa que dorme não sabe que está dormindo.

E, através dessa introdução para lá de esquisita, começamos a falar dos objetivos do Amplitudo. Meu forte desejo é que sua percepção se amplie, como se amplia a visão do horizonte após o temporal na praia, como se amplia a consciência da realidade quando você acorda de um sonho.

– Álvaro, a coisa está meio vaga. Você ia falar sobre uma tal de Única Condição…

Sim. A gente vai chegar lá.

Antes, preciso apenas que você conheça um pouco dos bastidores para compreender perfeitamente o conceito quando ele for apresentado. Afinal, eu falava sobre melhorar as condições do seu trabalho e agora estou falando sobre ampliar suas percepções. Simples: uma coisa leva à outra.

Vamos dar um pouco mais de corpo a essas últimas ideias tomando emprestados trechos de alguns livros.

Em Vá direto ao assunto, de Stuart R. Levine, lê-se: “O primeiro passo é determinar uma meta clara.”.

Bem, o Amplitudo deseja que você tenha a capacidade de determinar metas claras.

Em Segunda-Feira Nunca Mais, de Dan Miller, lê-se: “A genialidade parece estar na capacidade de ver soluções que os outros não veem.”.

Definitivamente, o Amplitudo deseja que você seja capaz de ver soluções onde outros não veem. E você já vai entender por quê.

Veja que interessante este trecho de Outliers – Fora de Série, de Malcolm Gladwell, sobre um profissional do setor de aviação que acabou com a alta taxa de acidentes aéreos em uma companhia: “ofereceu [aos seus subalternos] a oportunidade de transformar seu relacionamento com o trabalho.”.

Esse conceito está tão de acordo com o que desejo para você que também pede um destaque:

“O objetivo do Amplitudo é oferecer a você uma oportunidade de transformar seu relacionamento com o trabalho.”

E se você me perguntar por que eu tenho esse objetivo, a frase abaixo, de Auguste Rodin, talvez responda:

“O mundo nunca vai ser feliz até que todos os homens tenham alma de artista – quero dizer, até que eles tenham prazer com o seu trabalho.”

E que tal essa frase de Clóvis de Barros Filho, em seu livro A vida que vale a pena ser vivida:

“Imaginar que tenhamos que esperar até sexta-feira às 18h para passarmos uma hora feliz é ter da vida – em particular da vida profissional – uma concepção bastante triste.”

Ter prazer com o seu trabalho… Passar horas felizes… Bem, se hoje você não estiver plenamente satisfeito com o que faz, estamos falando de transformar sua relação com o trabalho, não estamos?

Citamos o objetivo de ampliar as percepções. Pois então… Você já percebeu como, em geral, um funcionário descontente só consegue ver duas possibilidades? Estas são: (1) ficar no emprego ruim ou (2) sair do emprego ruim esperando que algum outro seja bom – o que talvez não ocorra, principalmente se o problema não estiver apenas no emprego.

Será que só existem essas duas opções – aturar ou atirar?

Uma possibilidade, que não costuma ser levada em consideração – talvez porque não se acredite muito nela – é melhorar as condições do emprego que já se possui.

– Ah, esqueça… – diz você.

Imagino mesmo que possa não haver muita esperança quanto a isso. Observo as pessoas todos os dias e sei que esse sentimento é comum. Mas, talvez, possamos mudar essa sua convicção se nos ativermos ao centro da questão: ampliar as soluções disponíveis para não se limitar.

Certa vez, um colega meu executou uma bela manobra. Ele estava trabalhando insatisfeito em uma empresa e queria se dedicar a um negócio próprio. Simples: bastava criar coragem, largar o emprego e lançar-se ao empreendedorismo.

Mas não. Ele não fez isso.

Ele foi um pouco mais esperto, pois largou o emprego e foi para outro, em condições melhores, enquanto preparava a saída definitiva para o negócio próprio. Talvez, se ele tivesse saído prematuramente em busca do negócio próprio, sua iniciativa poderia ter dado errado, pois, naquele momento, ele ainda não estava pronto.

– Álvaro, não era para alterar as condições de trabalho em vez de abandoná-lo?

Sim, é claro.

– Então, você estaria se contradizendo?

Claro que não. Citei esse exemplo só para mostrar que, para qualquer situação, costuma haver mais opções do que conseguimos ver em um primeiro momento e que, com criatividade e, principalmente, com calma, podemos enxergar essas opções.

Mas voltemos para onde estávamos. Em vez de jogar tudo para o alto, vamos pensar em alterar as condições de trabalho:

“Às vezes, a melhor opção envolve apenas uma leve mudança no que já estamos fazendo.” – Dan Miller, em Segunda-Feira Nunca Mais.

O mais importante, contudo, vem agora. Preste atenção. A mudança não se dará no seu emprego, mas na sua empregabilidade.

Exatamente.

Cada vez mais você vai se conscientizar de que precisa ser um indivíduo valioso, situação na qual a empresa precisa de você mais do que você precisa dela. Esse é o começo da liberdade.

A liberdade começa quando a empresa precisa de você mais do que você precisa dela.

A verdade é que as pessoas não possuem emprego – ou, ao menos, não o que elas gostariam – porque não têm definido claramente, para si próprias, o que elas podem fazer de muito, muito bom. Trabalham com afinco, com muita determinação, atendem ao que lhes é solicitado, mas não sabem dizer ou mostrar em que se destacam.

Agora, pense comigo: se a pessoa não mostra em quê se destaca, como a empresa onde ela trabalha vai perceber essa qualidade? E se a empresa não percebe, como vai valorizar?

Essa situação proporciona apenas uma eterna esperança. As pessoas ficam na expectativa de que tudo um dia melhore, de que as condições de trabalho melhorem, de que seja eleito um melhor presidente da república e por aí vai. O que elas não percebem é que é inútil ter esperança sem ter ferramentas.

E cá estamos a falar novamente de nossos objetivos. Uma das razões pelas quais o Amplitudo nasceu é exatamente manter viva a chama da esperança que você tem de um dia levar a vida que sempre sonhou no seu trabalho.

Porém não falamos de uma esperança cega e sem fundamento, como aquele seu amigo que diz “não se preocupe que tudo acaba bem no final e, se não está bem ainda, é porque não chegou ao final.”.

Desculpe-me a franqueza, mas esse seu amigo não serve para muita coisa. Ele está lhe oferecendo esperança, sim, mas não as ferramentas. Se ele o auxiliasse a perceber o processo pelo qual poderia melhorar, a informação seria certamente mais útil.

“Quem tem mais percepção é mais eficiente, possui mais vantagens e corre menos riscos.”

Lembra?

Uma consolação vazia como essa não o faz ser mais eficiente ou possuir mais vantagens. Não o faz reduzir os seus riscos.

Infelizmente, o que o seu amigo gente boa fez com essa rasa recomendação é o que fazem alguns livros de autoajuda. Eles apontam o céu, a suprema felicidade, e pedem para você acreditar que tudo aquilo é possível. E sugiro mesmo que acredite, pois essa é a parte da esperança sobre a qual falamos há pouco. Afinal, sem esperança a coisa não vai.

O problema é que eles não costumam oferecer uma estratégia para se “chegar lá”. E essa é a parte das ferramentas.

Obs.: Não condeno de forma generalizada os livros de autoajuda, pois muitos são excelentes e fornecem muitas ideias práticas. Por isso, acima, eu disse alguns livros, e não todos.

Vejamos. Uma vez que a proposta do livro é ajudar, a ausência de uma estratégia prática é um verdadeiro absurdo. Porém, sob a forma de um opúsculo cheio de boa intenção e com uma bela capa azulada, essa deficiência costuma passar despercebida. Mas com este próximo exemplo não passará.

Imagine que alguém lhe deu um envelope contendo o mapa de um tesouro muito valioso. Você abre o envelope e retira o mapa, que está dobrado. O papel parece bem antigo. Momentos de tensão.

Quando, por fim, o mapa é desdobrado, você lê a seguinte frase: “O tesouro está onde ele foi enterrado.”.

E mais nada.

Agora você percebe o absurdo, certo? O absurdo de dar esperança sem dar ferramentas.

Mas, ainda assim, isso pode nos auxiliar nos fazendo aprender: sem o conhecimento do processo você dificilmente atinge o fim. Em geral – e, em especial, na busca pela liberdade – é insuficiente ter uma teoria sobre algo possível sem dispor de meios para transformar esta teoria em prática e, consequentemente, atingir resultados concretos.

Por falar em teoria e prática, não posso deixar de citar uma frase muito importante que li em um excelente e-book de David Wood chamado Get Paid for Who You Are (Seja Pago por Quem Você É):

“Reading this book won’t change your life.” (ler este livro não mudará a sua vida).

Estranho, não? É como se o autor não acreditasse no próprio livro. Mas você compreende quando lê o trecho todo:

“Reading this book won’t change your life. Applying it will.” (aplicar o que foi lido é que mudará a sua vida).

Esta é uma frase muito interessante para mostrar a diferença entre teoria e prática e que eu tomo de empréstimo para o Amplitudo. Afinal, ler tudo isso aqui não é o que vai mudar a sua vida. A verdadeira possibilidade de mudança reside na ação, na aplicação dos conceitos.

Obs.: Na falta de um termo já existente, julgamos apropriada a criação do neologismo praticalizar, significando “colocar algo em prática”. Não, não é o mesmo que praticar (caso você tenha pensado nisso). E não, não encontrei nada melhor para exprimir essa ideia, razão pela qual uma nova palavra foi criada. Se você tiver alguma sugestão melhor, não deixe de me avisar.

E por falar em mudança… E por falar em Amplitudo…

Existe mais um objetivo que desejo alcançar quando penso em oferecer a você uma oportunidade de transformar seu relacionamento com o trabalho. Esse objetivo é fazer com que você perceba uma imensa e silenciosa transformação ocorrendo bem debaixo de nossas narinas.

Imensa e silenciosa.

Vou citar Dan Miller mais três vezes para você entrar no clima:

  1. “Independente de você decidir fazer uma mudança completa no seu trabalho atual ou se lançar numa carreira totalmente nova, vai descobrir que não dá mais para voltar ao velho modo de trabalhar.”
  2. “Estamos vivendo uma transição de uma economia baseada em tempo e esforço para uma economia baseada em resultados.”
  3. “Em pouco tempo, a maioria das pessoas vai ser responsável pelo próprio seguro, pela aposentadoria e pelos outros benefícios.”

A transformação é imensa porque estamos falando de uma mudança na forma como as pessoas trabalham. Mudança de igual magnitude já aconteceu antes quando aboliram a escravidão. Quem estava acostumado a ter “empregados” por cujos serviços nada se pagava foi obrigado a… mudar de hábito.

Só que, ao contrário da abolição, a atual mudança é muito silenciosa, pois não existem leis, movimentos nas ruas, protestos, revoltas, assassinatos, nada disso. Ela simplesmente está acontecendo. E, também ao contrário da abolição, a consequência principal da mudança desta vez não é a necessidade de adaptação por parte dos empregadores, mas por parte dos empregados.

Ou seja: você e eu.

Basta ver como muitos estão trabalhando atualmente. Se há uns setenta anos as pessoas quisessem abrir empresas sem nunca pensar em ter funcionários, seriam consideradas loucas. Abrir uma empresa tinha por objetivo contratar funcionários, ser o patrão e ganhar um bom dinheiro.

E o que acontece hoje? Veja a quantidades de trabalhadores com empresa aberta (sem funcionários) apenas para serem tratados como pessoa jurídica pelos seus “empregadores” (que são, na verdade, seus clientes, ainda que seja uma empresa só) e evitarem, assim, duas coisas muito desagradáveis: envolver-se em transtornos trabalhistas e perder dinheiro para o governo.

Confesso que soa um pouco ameaçadora a última frase: em pouco tempo, a maioria das pessoas vai ser responsável pelo próprio seguro, pela aposentadoria e pelos outros benefícios.

Mas não há por que temer ou resistir. Eu mesmo já faço parte desse grupo e estou muito feliz.

E você? Muda ou não muda?

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