Relacionamentos (p. 4)

Expressão:

Esse tijolo é muito importante para os relacionamentos, tanto por seu valor em si quanto pelo fato de ser bastante negligenciado.

É tanta vantagem que não cabe aqui discutirmos em profundidade – e ainda assim, o tópico ficou um pouco longo. Há bastante literatura a respeito e poderemos trocar muita informação daqui para frente através dos informativos, de e-mails, conversas ao vivo etc.

Mas alguns pontos realmente precisam ser ressaltados, ao menos para que você possa fazer uma reflexão inicial sobre o colossal tamanho da importância desse item.

Pense em uma palestra. Pense que o palestrante é muito bom.

Agora pense no final da palestra, aquele momento em que você pode conversar um pouco com o palestrante, talvez comprar seus livros, conseguir um autógrafo etc.

Consegue imaginar a cena?

Agora, diga a verdade, do fundo do coração: dá vontade de ser o palestrante, não dá?

Para mim, dá. Eu sempre gostei de ter bons relacionamentos e sempre procurei ser amigo de todo mundo. Nem sempre isso foi possível, é claro, mas os relacionamentos continuam sendo um artigo de grande valor para mim. Quando vejo um palestrante sendo rodeado, perseguido, assediado por pessoas que ele nem mesmo conhece, percebo que o que ele criou ali foram relacionamentos – certamente vantajosos – utilizando o seu poder de expressão.

Ele conseguiu, através da forma como colocou suas palavras, apresentar um tema que gerou identidade com as pessoas, às vezes nem tanto por seu conteúdo, mas por seu formato (tijolo: modo).

Agora, esqueça a palestra. Você está em uma festa com amigos.

Veja se as pessoas estão se aproximando de você – que está quietão em um canto, olhando os outros como se fosse um serial killer escolhendo a vítima – ou se elas preferem se aproximar de uma pessoa comunicativa, que interage e compartilha histórias interessantes, conta algumas piadas etc.

Agora, esqueça a festa. Você é um aluno e está na sua sala no ensino médio, terminando de assistir a uma aula e se preparando para a seguinte. Você se percebe um pouco sem entusiasmo, pois está saindo o professor legal para entrar o chato. Só que ambos são de física. Como explicar isso?

Se eu puder arriscar um palpite, diria que o professor legal é o que se expressa melhor. Agora esqueça a sala de aula e…

– Álvaro, creio já ter compreendido o ponto.

Puxa vida, você está por aí? Estava tudo tão quieto…

Mas tudo bem. Até porque, você não precisa aceitar que a expressão é uma forma certeira e altamente poderosa de construir relacionamentos só porque eu estou dizendo. Tenho certeza de que você já viveu inúmeras situações que demonstraram o valor de uma boa capacidade de comunicação. Só precisa é se lembrar disso com a maior frequência que conseguir e buscar ativamente o desenvolvimento dessa habilidade.

Obs.: Talvez ajudasse colocar um lembrete na porta da geladeira, no espelho do banheiro e onde mais fosse possível. Algo do tipo: “Minha capacidade de expressão afeta tanto os meus relacionamentos quanto todo o resto da minha vida.”.

Porém, como nem tudo na vida são flores, precisamos tomar cuidado com uma faceta perigosa da expressão: o excesso de competência.

Excesso de competência nunca é ruim quando falamos da competência em si (seria uma maximização da competência, certo?).Mas o tópico central aqui são os Relacionamentos. E excesso de competência na expressão pode fazer mal aos relacionamentos de uma forma muito específica. Quer ver?

Volte àquela festa do exemplo anterior.

– Ah, sério mesmo?

Sim, pode confiar. Volte lá e aproxime-se um pouco mais daquela pessoa comunicativa, que interage, compartilha histórias interessantes, piadas…

Fique mais um pouco e veja as pessoas se aproximando. A rodinha vai se formando.

Fique mais um pouquinho, veja as pessoas se arrumando no lugar, jogando o peso de uma perna para a outra e, às vezes, tentando falar também alguma coisa, tentando complementar algum caso interessante com suas próprias experiências no rápido intervalo de quinze milissegundos que a pessoa comunicativa usa para tomar fôlego.

Se você insistir em ficar mais um pouco verá as pessoas indo pegar um salgadinho ou um refrigerante… e não voltando mais.

O que aconteceu? Excesso.

Nos relacionamentos, especificamente no quesito expressão, não podemos nos esquecer de um importantíssimo tijolo já estudado: a moderação. Pessoas que se expressam bem são queridíssimas. Mas essa afeição rapidamente desaparece se elas são monopolizadoras. Elas já obscureciam o discurso alheio pelo excesso de qualidade do seu próprio. Até aí, fazer o quê? A pessoa tem talento. É normal surgirem dores aqui e ali.

Mas obscurecer pela quantidade não é talento. É falta de educação e de tato e, acima de tudo, falta de inteligência, pois se os relacionamentos são importantes e sua verborragia os compromete, sem dúvida que está faltando um pouco de controle da sua parte, provavelmente fruto de uma anterior falta de observação.

Falo isso acima com muita propriedade e grande conhecimento de causa, pois já estive imerso nessa situação. E de ambos os lados. Vamos, então, a essa pequena historinha ilustrativa e autobiográfica.

Ninguém que escreve tem pouco a dizer. Pelo conteúdo apresentado até aqui no Amplitudo – sem contar outras coisas que já escrevi – é possível imaginar que eu deva também falar bastante – o que é verdade. Basta imaginar o Amplitudo como uma exposição oral, em vez de um material escrito, para você ter uma ideia do falatório.

Porém, assim como a pessoa comunicativa da festa de alguns parágrafos acima, eu não percebia que nem todas as situações são oportunidades para externar opiniões ou conhecimentos. E como eu comecei a perceber isso? Observando.

Durante muito tempo, estive alheio à realidade, que era a seguinte: meu discurso incomodava. Incomodava quem? Aqueles que não se interessavam pelo conteúdo (podendo ser qualquer um), aqueles que já tinham entendido quando eu insistia em parafrasear e oferecer outro exemplo (qualquer um, em especial os mais espertos), e aqueles que já estavam cansados do conteúdo ou do estilo devido ao contato constante (principalmente os parentes e amigos próximos).

Mas não foi apenas observando as pessoas que atinei com a conclusão. Foi observando o meu próprio comportamento quando diante de pessoas como… eu. O que me incomodava nos outros deveria ser, também, o que incomodava os outros em mim e, a partir daí, comecei a reparar, agora conscientemente, na reação das pessoas conforme eu conversava com elas. Sinais corporais de “já entendi, pelo amor de Deus!” começaram a ser por mim melhor captados. E se melhor captados, podiam ser também melhor respeitados.

Se você tiver a oportunidade de conversar comigo algum dia, talvez perceba que ainda estou muito longe de alcançar o discurso perfeitamente balanceado do ponto de vista quantitativo, ou seja, aquele que diz tudo o que precisa sem dizer nada que não precisa.

Isso é muito difícil para muitas pessoas, e o é, certamente, para mim.

Porém, só o fato de eu estar mais esperto quanto à possibilidade de estar sendo um chato, já me rendeu alguns avanços na esfera dos relacionamentos. Também não foi sem a ajuda de muita leitura. A própria centelha inicial de consciência foi disparada pela leitura de um bom livro.

É claro que, como já vimos no tijolo equilíbrio, precisamos ponderar as coisas. Lembre-se da festa. Deixar de ser o comunicativo para passar diretamente ao serial killer não adiantará nada. Você troca um excesso pelo outro e faz nenhum avanço.

Obs.: Talvez por isso eu tenha sentido vontade de iniciar o Amplitudo. Esta é uma forma de transmitir algumas opiniões – que espero sejam úteis – sem alugar o ouvido dos outros. Afinal, a leitura você pode parar a qualquer momento sem temer estar parecendo rude comigo. E, nesse meio tempo, continuo treinando para melhor dosar o palavrório…

Falando nisso, chego agora a um dilema. Se eu continuar a falar sobre o poder da expressão, poderia citar, por exemplo, a contribuição que as analogias oferecem na ampliação da clareza, o que já vimos ser importante. Mas, se eu continuar, estaria falhando em dosar meu discurso? Estaria comprometendo meu relacionamento com você?

Na dúvida, paro por aqui – mas com a sensação de que voltaremos ao assunto muitas vezes no futuro…

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