Relacionamentos (p. 1)
RELACIONAMENTOS
Sempre é bom reforçar o que é importante.
Repetição 1: O supremo objetivo do Amplitudo é oferecer meios para você ampliar sua liberdade.
Repetição 2 (adaptada): A forma como os Relacionamentos estão ligados a esse objetivo é a seguinte: relacionamentos deficientes podem restringir sua liberdade.
Lembremos também que as cinco pontas da Estrela estão sendo tratadas como ativos. Então, os relacionamentos são ativos. E isso pede a terceira repetição.
Repetição 3: Ativos são bens que você possui resultantes de esforços passados e dos quais futuros benefícios podem ser obtidos.
Findo o início-repeteco, podemos voltar ao nosso arroz com feijão e buscar uma definição do dicionário para relacionamento:
1. Ligação entre duas pessoas. Simples, né?
Mas como é complexa essa simplicidade…
Você deve lembrar que em Os Tijolos discutimos os conceitos de correlação e afinidade. Lá atrás, para mostrar que, embora próximos, os conceitos não são iguais, utilizamos dos nossos queridos amigos Tom e Jerry, que mantém correlação sem manter qualquer afinidade.
Bem, com os relacionamentos pode ocorrer a mesma coisa. Se você trabalha em uma empresa e tem um chefe do qual não gosta, há entre vocês um relacionamento por correlação. Afinal, vocês trabalham na mesma empresa, um é subordinado ao outro e, portanto, um precisa interagir com o outro – e tudo isso ainda que não haja afinidade.
Por outro lado, você pode ter um ex-chefe – da época em que trabalhou em outra empresa – com o qual mantém relações até hoje por se darem bem um com o outro.
E com essa distinção podemos fazer uma primeira análise, que é a razão pela qual algumas pessoas não conseguem extrair o que desejam de seus relacionamentos.
Existe uma ilusão de que todo relacionamento pressupõe afinidade. E ilusão, como já examinamos, é o contrário de um importantíssimo tijolo: a consciência.
Uma vez que você esteja consciente de que alguns relacionamentos se dão apenas por correlação, vai parar de querer forçar uma afinidade onde ela não existe e, então, buscará obter outra coisa desse relacionamento: o proveito.
Quando uma pessoa não acha justo dedicar-se a um determinado relacionamento por perceber que a outra parte não se dedica da mesma maneira, o que ocorre é que elas têm objetivos diferentes. Talvez seja menos questão de justiça e mais de divergência.
Certa vez, um cliente meu se distanciou. Na visão de alguns, inclusive na minha, ele não estava certo. Consigo imaginar, porém, o óbvio: na visão dele o errado era eu. Até aí, tudo bem, porque havia uma diferença de opiniões muito bem estabelecida e dificilmente uma parte se convenceria de que a outra é a que esteve certa o tempo todo. Poderíamos até nos entender, poderíamos encontrar justificativas para o modo de agir, poderíamos aceitar desculpas, sem problemas. Mas continuaríamos julgando mal a conduta um do outro.
Havia, no entanto, uma questão: algumas coisas ficaram pendentes, especialmente sob o ponto de vista financeiro, sendo eu o potencial beneficiário. Por isso, cortar relações de maneira enérgica e definitiva seria prejudicial a mim, ao menos nesse ponto. Infelizmente, a afinidade que um dia houve perdeu força, mas ainda havia algo de interessante para se obter dessa estranha relação.
Por muito tempo, fui questionado e criticado por pessoas próximas pela opção de manter aquele relacionamento. Eu, no entanto, não me abalei. Sinceramente, sou uma pessoa que perdoa muito facilmente e não seria difícil até mesmo aceitar uma reaproximação legítima do relacionamento por afinidade, caso viesse a ocorrer.
Mas, se não ocorresse, e o meu dinheiro?
Eu estava, portanto, me mantendo próximo. Se a pessoa mostrasse sinais de revitalização dos laços, lá estaria eu para considerar uma reaproximação. Do contrário, era bom saber como andava a vida dela para que pudéssemos, em momento oportuno, acertar as pendências. Afinal, já diz o adágio, amigos, amigos, negócios à parte.
Agora voltemos a você e ao seu chefe. Ele solicita uma providência e você se dedica ao máximo. Ele, na melhor das hipóteses, elogia. Na pior, não diz nada. No inferno das hipóteses, ele só encontra pontos ruins para serem ressaltados e depreciar a qualidade do seu trabalho – infelizmente, um cenário comum.
Agora repare em uma coisa: nas três hipóteses você continua empregado. Em vez de ficar mordendo a fronha do seu travesseiro à noite porque o seu chefe há dez anos nunca elogiou um único trabalho seu e deixar que isso o conduza a depressões e medicamentos, já parou para pensar que você está empregado há dez anos? Quantas pessoas estão experimentando essa longa “maré de sorte”?
Obs.: Lembre-se de quando falamos sobre o otimismo. Era algo como concentrar-se no lado bom porque ele existe.
O que o incomoda nessa situação é que você quer que o relacionamento com o seu chefe se baseie em afinidade quando ele, não. Pense no chefe do seu chefe, pressionando-o por resultados o tempo todo. Ele (seu chefe) sabe que os resultados virão através do trabalho de seus subordinados – ou seja – você. O relacionamento que ele mantém com você, portanto, visa obter tão somente um proveito: resultados. Com isso, ele agrada o chefe dele e consegue manter-se no emprego, ou consegue um aumento, ou uma promoção, uma sala maior, qualquer coisa.
Em uma situação dessas, só lhe resta fazer o mesmo. Pense que você precisa pagar suas contas, talvez sustentar uma família e que aquela pessoa que há dez anos não o elogia, mas também não o demite, já reconheceu – ainda que veladamente – sua competência. Trate de considerar a situação, então, não como um relacionamento por afinidade, mas como um meio de obter seu sustento e – veja só – de financiar os seus relacionamentos por afinidade.
Pense. É o seu chefe – que não o elogia – quem permite que você compre um presente bonito para o seu cônjuge.
É o seu chefe – de cara amarrada – quem permite que você matricule sua filha no balé ou seu filho do futebol (hoje em dia, pode ser o seu filho no balé e a sua filha no futebol…).
Em suma: você tem um relacionamento do qual tira proveito. Dê a sua parte no acordo e mantenha as coisas funcionando. Pare de se iludir e compreenda que este não é um relacionamento por afinidade, mas por correlação.
Obs.: É claro que você pode desejar um chefe legal. E, convictamente, afirmo: eles existem. Mas não creio que ocorram em abundância nas grandes empresas multinacionais controladas pelo diabólico, frio e insensível capital. Como esse assunto já foi tratado em A Única Condição, é suficiente apenas recordá-lo, sempre lembrando que somos frutos das decisões que tomamos.
Seja por correlação, seja por afinidade, lembre-se sempre disso: os seus relacionamentos são ativos. São riquezas que possibilitam a conquista de novas riquezas.
Obs.: Apenas não se esqueça da qualidade. Não adianta ter cinco mil contatos no seu Facebook se cada um deles é um perdido que você nem se lembra de onde conhece. Em se tratando de relacionamentos, não é “quanto mais, mió”, mas “quanto mais mió, mió.”.
A importância dessa ponta da Estrela é tamanha que as pessoas bem relacionadas atribuem considerável parte da qualidade de suas vidas aos seus relacionamentos.
Os relacionamentos são tão poderosos que, às vezes, suplantam uma eventual negligência em relação a outras áreas.
Se quiser um exemplo levemente exagerado, porém de clareza didática, pense em um político, desses bem pouco saudáveis, pois seus vencimentos lhe permitem toda a sorte de abusos alimentares possíveis. Suponha também que o uso de seu tempo é dos piores, visto que ele não tem, entre suas preocupações, coisas como produtividade, ou otimização. Com o mesmo descaso ele cuida do dinheiro. No entanto, ele dificilmente está em dificuldades. Por quê? Por causa dos seus relacionamentos. Lembre-se, ele é político. Algumas pessoas já foram beneficiadas por ele, que sempre poderá pedir em retorno um favorzinho na hora mais necessária. Muito bem relacionado, ele também está sempre informado sobre as melhores “opções de investimento do mercado” e, ainda que gaste seu dinheiro de forma inconsequente, sempre há mais entrando…
Se tudo der errado, ele tem tantos eleitores que pode passar o resto da vida almoçando e jantando na casa de cada um deles, nem passando fome nem esgotando suas opções de restaurante. Veja que, da Estrela desta fictícia pessoa pública, três pontas são praticamente ignoradas (S, T, D) – mas não os relacionamentos. Por outro lado, um político sem bons relacionamentos estaria encrencado.
Agora, um exemplo corporativo. E real.
Pude observar durante vários anos a diferença que os relacionamentos faziam para os negócios de duas empresas. Uma delas possuía bons profissionais, mas alguns bastante insatisfeitos. Além disso, a empresa possuía uma péssima organização e uma péssima gestão. Eu disse péssima? Eu fui gentil.
A outra empresa, ao contrário, possuía uma grande organização em seus processos. Seu crescimento era sólido e constante e seus funcionários, bastante contentes. Só que ela era dez vezes menor que a primeira empresa.
A razão? Relacionamentos.
A primeira empresa possuía tantos contatos geradores de negócios, de oportunidades e de novos profissionais que toda a bagunça que lá havia era compensada pela enxurrada de zeros nos boletos emitidos aos seus clientes.
Situações como essa nos oferecem sabedoria em poesia: contatos são contratos.
Obs.: Só espero que não apareça algum espírito de porco dizendo que eu defendo a bagunça contanto que haja dinheiro…
Diante deste cenário, procurei fazer duas coisas. Uma, foi convencer a empresa dos contatos de que ela precisava se organizar. Infelizmente, não obtive sucesso.
A outra foi tentar arranjar contatos para a empresa organizada. Nesse caso, a coisa andou melhor um pouco, mas de forma muito lenta e pouco expressiva.
Talvez você, como eu, tenha pensado no mundo perfeito. Imagine se a empresa dos contatos se juntasse com a organizada, cada uma entrando com o que tinha de melhor?
Bem, eu achava essa solução o máximo. Tanto que a incentivei. Mas não rolou. Os proprietários tinham suas próprias e bem arraigadas ideias que não apontavam para essa fusão de vantagens. E por falar em vantagem…
Já que o primeiro tópico (Saúde) nos forneceu a estrutura do nosso desenvolvimento, não preciso explicá-la novamente. Vamos relacionar também o presente tema com algumas questões, a saber: personalidade, competência e cessão.
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