Os Tijolos - Família Relatividade
Custo
1. O que deve ser dispendido (em dinheiro, tempo, esforço, etc.) para se obter algo.
2. Preço pago pela aquisição ou produção de um bem.
3. Dificuldade, trabalho, esforço.
Pelo resto da vida, lembre-se: tudo custa.
Algumas coisas parecem não custar, mas custam. Basta você expandir a ideia de custo para além da esfera financeira e perceberá mais claramente a verdade da afirmação acima.
Por exemplo, se para obter algo você não gastou dinheiro, posso garantir que ao menos algum tempo consumiu. Às vezes, consome um pouco de sua saúde, ou de algum relacionamento.
Obs.: Repare como estamos voltando às pontas de nossa Estrela conforme nos aproximamos da conclusão dos tijolos.
Para ver que mesmo o dinheiro doado impõe um custo, pensemos em uma instituição de caridade. Ela precisa exercer um significativo papel na sociedade, prestar um mínimo de contas aos seus doadores e inspirar credibilidade, pois, do contrário, correrá o risco de perder as doações. Todas essas atitudes representam o custo das doações, de forma a não podermos dizer que o dinheiro foi conquistado “de graça”.
Outro exemplo. Imagine um herdeiro que, com o grande montante herdado, consegue viver sem ter que trabalhar, só consumindo os rendimentos de suas aplicações financeiras. Aparentemente sem custos, essa vida possui alguns. Um deles é o controle de sua vontade de consumo, pois, se o que o herdeiro deseja comprar superar os rendimentos de um mês, será provocada uma redução do montante total e, no mês seguinte, o rendimento será menor. Se isso for feito seguidamente e sem qualquer compensação, mais cedo ou mais tarde o zero será encontrado.
Outro custo do nosso bon vivant pode se dar em relação à saúde. Como não há outra fonte de renda, a pessoa pode viver constantemente aflita caso alguma coisa aconteça com seus investimentos, como uma perda expressiva de rentabilidade, um confisco pelo governo, uma desvalorização abrupta da moeda etc.
Obs.: Ser útil é a única garantia, lembra? Por isso o bacana vive com medo, mesmo cheio da grana…
Há ainda a possibilidade de custo nos relacionamentos. Viver sem ter que trabalhar pode despertar inveja ou cobiça, tornando os relacionamentos falsos, suspeitos, tensos.
Portanto, a total gratuidade é algo que praticamente não existe (esse praticamente fica para ser esclarecido um dia no futuro).
Se, quando falamos sobre sorte, você concordou que ela também não existe – existindo, em seu lugar, o merecimento – as coisas começam a se encaixar aqui, pois o custo explica o merecimento. E não importa se o merecimento é relativo a algo bom ou ruim.
Pensemos assim: se lhe ocorre algum benefício, certamente você, a priori, fez por merecer e esse esforço é o custo do seu merecimento.
Se lhe ocorre algo de ruim, certamente você também fez por merecer, só que os fatores pagamento e benefício estão, aqui, invertidos. O acontecimento ruim é o preço que se paga, a posteriori, por algum benefício conquistado lá atrás (possivelmente, através de meios questionáveis).
Deixemos de lado esse papo de castigo dos céus e voltemos ao nosso caráter prático com três breves exemplos de custo.
Exemplo 1: o custo do pagamento parcelado.
É um ledo engano as pessoas pensarem que realmente conseguem comprar um produto em doze vezes sem juros. Não existe, no varejo, um único parcelamento sem juros. O que existe é parcelamento sem juros explícitos ao consumidor. Não fosse assim, não haveria o desconto à vista, ou você nunca parou para pensar nisso? O desconto à vista são os juros que não serão cobrados pelo lojista, pois, recebendo à vista, ele não terá que cobrir os custos da espera por um dinheiro que, se a compra fosse parcelada, demoraria a chegar.
Exemplo 2: o custo de oportunidade.
Esse custo é muito sutil e relativo, o que torna mais difícil sua percepção. Quer ver?
Procure responder a esta pergunta: é melhor estar empregado ou desempregado?
Se não inventarmos mirabolantes detalhes que contrariem nossa lógica básica, você tenderá a responder que é melhor estar empregado. E eu quase concordo.
Esse quase tem uma razão de ser. Ele se refere a uma condição que não foi avaliada: a qualidade do emprego (lembrando que estamos discutindo a relatividade das coisas, onde aquele “depende” tem sempre sua importância).
Sabendo que um emprego cria laços entre a pessoa e um determinado lugar, podemos concluir que, se o trabalho for ruim, a pessoa estará “presa” a algo ruim, minimizando as chances de melhorar suas condições. Se estivesse desempregada, teria mais tempo e mais oportunidade de fazer contatos que poderiam resultar em vantagem. Estar em um emprego ruim acarreta, portanto, um custo de oportunidade: a oportunidade de se conseguir um bom emprego.
Obs.: A vantagem de possuir uma boa poupança fica ainda mais clara após a análise deste tipo de custo de oportunidade, pois percebemos que não é apenas para comprar um carro ou fazer uma viagem que se junta dinheiro, mas para não ter que aceitar quaisquer condições de trabalho quando uma eventualidade ocorre em sua vida. Suas economias lhe proporcionarão tranquilidade para dispor do tempo necessário à pesquisa das melhores oportunidades.
Exemplo 3: o custo de não ter custo.
No livro High Trust Selling, de Todd Duncan, há uma boa demonstração do custo que às vezes se adquire por evitar custos.
Um diálogo entre um executivo com diversos problemas no trabalho e um aconselhador mostra o executivo reclamando da falta de tempo para tomar as muitas providências que seu trabalho exige. O aconselhador lhe pergunta por que ele não tem uma secretária. O executivo responde que não pode pagar para ter uma secretária. E então, o aconselhador lhe faz a pergunta fatal: “E você acha que pode pagar para não ter uma secretária?”.
Dentro dessa pergunta há uma grande sabedoria a respeito da relatividade dos custos. Se um executivo tem possibilidades de gerar dinheiro com o seu trabalho, mas está tendo essa função obstruída por trivialidades (que poderiam ser gerenciadas por uma secretária), é possível que esteja saindo mais caro não ter a secretária do que tê-la.
Exemplo 4: o custo de não ter custo 2, a missão.
– Álvaro, você disse que seriam três exemplos.
Estamos em promoção. Comprou três, leva um de brinde… :-)
Imagine-se sócio de um clube de investimentos financeiros. Sabemos que ser sócio custa, mas no clube você está em contato com pessoas bem sucedidas que podem lhe oferecer excelentes oportunidades de investimento. Uma única oportunidade bem aproveitada talvez lhe renda cem vezes o custo da mensalidade do clube. Isso nos faz pensar no que custa mais: ser ou não ser sócio de um clube como este?
Encerraremos esse custoso tópico reforçando duas ideias.
A primeira é a não obrigatoriedade da relação custo-dinheiro (veja novamente, a primeira definição apresentada pelo dicionário). No exercício que faremos em Permuta e Sinergia isso vai ficar muito mais claro, mas desde já é recomendável que você exercite sua percepção e sua criatividade para compreender que os custos podem se apresentar das mais variadas formas.
A segunda ideia é um encadeamento com o tijolo anterior. Todas as transações são trocas, e o que você oferece para alcançar um objetivo é o custo desse objetivo. Seu desapego em relação às coisas facilitará, portanto, o atingimento de seus objetivos, pois se para atingi-los você precisa dar algo em troca, e para dar algo em troca precisa ter desprendimento, você conseguirá estabelecer todo esse processo mais facilmente quanto maior for sua capacidade de exercer o desapego.
A boa compreensão das duas ideias acima é o caminho para o pleno aproveitamento do próximo tijolo, o último de nossa lista, e que figura entre as ferramentas mais essenciais para o bom gerenciamento das pontas da sua Estrela.
Próximo Tijolo: Saldo.
Índice para todos os tijolos aqui.
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