Tempo (p. 2)

SUPERLATIVO

O tempo é estranho mesmo. O tempo no seu mais alto grau é… tempo. Só que mais. Um montão – ideia muito próxima à de liberdade, se você me permite resgatar o objetivo central que nos acompanha desde o manifesto A Única Condição.

O oposto do tempo – a falta dele – no seu mais alto grau é, curiosamente, o oposto da liberdade, da independência. Lá em Os Tijolos, definimos o oposto da independência, entre outras coisas, como sujeição. Pois é isso mesmo. Não ter tempo para nada é, na verdade, não ter tempo para nada que você deseje fazer. Sim, porque aquelas inexoráveis 24 horas todos os dias você continua tendo. Só que deve estar se sujeitando a dedicá-las aos objetivos de outras pessoas.

No superlativo do tempo não há restrições. E onde não há restrições, a liberdade é máxima.

A CONSTRUÇÃO

Escolhemos relacionar o Tempo a estes tijolos: ordem, simplificação, controledisciplina, produtividade, conjuntodivisãomultiplicação, prioridadeutilidade, clareza, inação, equilíbrio, responsabilidade.

Ordem:

Dispensaria comentários, pois que você já deve ter percebido – em sua própria vida – que se não houver ordem não haverá tempo. Mas, para não passar em branco, citemos Pitágoras: “Com organização e tempo, acha-se o segredo de fazer tudo e bem feito.”.

Simplificação:

Gostou do esquema rápido do tópico anterior? Então, vamos de novo, agora em forma de pergunta: o que lhe consome mais tempo, cuidar de coisas complexas ou de coisas simples?

Controle e Disciplina:

Permita-me tomar vergonha agora e voltar a escrever…

Vamos resgatar a questão do tempo necessário para se chegar, diariamente, até o trabalho. Sim, o assunto já foi bem apresentado, mas aqui temos um caso real.

Existe um profissional liberal – digamos que ele é arquiteto – que possui uma secretária. Tive a oportunidade de, em algumas conversas com ela, descobrir que ela gostava muito de ler.

Na verdade, ela gostava muito mesmo, porque o ritmo de leitura dela era grande. Sempre ela estava com um livro novo ou falando dos últimos que havia lido. E sempre em um curto espaço de tempo.

Como eu mesmo tenho um romance escrito – e neste exato momento, ainda não publicado – perguntei se ela não poderia lê-lo, sem pressa e sem compromisso, a fim de avaliá-lo como leitora. Ela concordou.

Posteriormente, fiquei bastante feliz quando ela me disse que estava gostando bastante e que já havia até passado o texto para um amigo – que, por sua vez, também teceu elogios.

Bem, esta foi a parte em que fiquei feliz. Agora vem a parte em que fiquei triste.

A rotina desta profissional era acordar às 5h30, pois ia de ônibus para o trabalho – um longo caminho que culminava com a chegada próxima às 8h. Ela lia durante todo o percurso de ida e de volta, o que era bastante tempo por dia, considerando o hábito de leitura do brasileiro médio que é… digamos… deixe-me ver… assistir televisão.

Mas eis que a vida sorriu para a nossa amiga e ela pôde dar entrada em seu primeiro carro. Agora não demorava tanto tempo para chegar ao trabalho. Poderia continuar acordando às 5h30 e ler confortavelmente na poltrona de casa, sem os sacolejos do ônibus, os barulhos do trânsito e a atmosfera claustrofóbica de um coletivo às sete da manhã.

Era de se imaginar que, dadas as condições de leitura inegavelmente superiores que se instalaram, a eficiência de leitura da moça que já lia bastante aumentaria ainda mais. No entanto, não foi o que aconteceu.

Ela simplesmente passou a acordar às 7h e não leu mais. Nem na ida, nem na volta, nem em qualquer outra hora.

O carro fez por ela a mesma coisa que faria a mudança para um local mais próximo ao trabalho: diminuiu o tempo gasto em deslocamento. Mas isso deveria servir para ela criar mais valor para a sua própria vida, não para ficar mais tempo na cama. Mesmo porque, não dá para fingir não sentir sono. Se ela acordava às 5h30 todos os dias, e conseguia se manter de pé, certamente era porque não ia dormir às duas da manhã. Aposto que, não precisando mais acordar tão cedo, passou a dormir mais tarde. E não é preciso muita genialidade para perceber que ela não utilizou esse tempo extra antes de dormir para repor a atividade que a entretinha e a enriquecia: ler. Do contrário, ela não teria dito para mim: “Ah, agora não estou conseguindo ler mais nada.”.

O automóvel deveria representar um avanço na sua vida, mas, dentro da minha análise, funcionou como um retrocesso. E, pior ainda: um retrocesso que custa dinheiro.

Sem mais delongas, segue o triste conselho: se você não for capaz de ter controle, de ter disciplina, esqueça a esperança de desenvolver um bom uso do tempo. E, com isso, esqueça junto todas as vantagens que esse saudável hábito pode proporcionar.

Produtividade:

Temo não ser mais necessário mencionar esse tópico como algo relacionado ao tempo. O assunto já foi abordado em teoria e em exemplos ao longo dos textos, figurando aqui somente como um importante lembrete. Se quiser, pode voltar ao tijolo correspondente para uma refrescada na memória.

Conjunto – Divisão – Multiplicação:

Você vai ver muitos livros corporativos falando sobre delegar tarefas. Leia-os. Existem até pequenos romances que se passam em ambientes empresariais para mostrar o dia-a-dia dos que sabem delegar e dos que não sabem.

Eu gostaria, no entanto, de deixar bem exposto aqui um conceito que não costumo ver destacado nestes livros: a balança.

Acredito estarmos de acordo quanto ao fato da capacidade de delegação de tarefas salvar o seu tempo. E não pense que precisa ser patrão ou chefe para delegar tarefas. Muitas vezes você está realizando uma tarefa corriqueira, até mesmo na sua vida pessoal, fora do trabalho, sem perceber que alguém poderia estar fazendo aquilo por você.

E, então, a questão se divide em duas possibilidades: substituição com mais ou com menos eficiência.

Não são raras as vezes que você delega uma tarefa e a pessoa a realiza com maior eficiência do que você mesmo faria. Exemplo: uma grande obra na sua casa. Se você não é pedreiro, não há dúvidas que vai fazer muita besteira ao tentar se virar sozinho.

Nesse cenário, não é difícil delegar porque também não é difícil perceber as vantagens. O problema se dá quando você tem a suspeita – e, às vezes, a certeza – de que a tarefa delegada será realizada com eficiência inferior à sua. Ah, aí fica difícil desgrudar da tarefa e passá-la adiante.

E, então, vem o nosso recurso imagético: a balança. Em um prato da balança fica o quão pior a outra pessoa realizará a atividade. No outro, fica o nosso tesouro: o tempo economizado. Com isso em mente, você deve olhar bem para a balança e verificar qual prato pesa mais. Se agir sempre dessa forma, dificilmente tomará a decisão de delegar uma tarefa quando deveria tê-la mantido em suas mãos, nem de mantê-la, quando ganharia mais delegando-a.

E ainda tem uma cordinha escondida que puxa um dos pratos um pouquinho mais para baixo, que é a seguinte. Se você for muito sincero, admitirá que, em muitos casos, mesmo que precise corrigir a tarefa realizada com eficiência menor que a sua, o tempo necessário à correção ainda é menor que o tempo de realizar toda a tarefa por sua própria conta.

Mas a constatação mais interessante vem agora.

A vantagem escondida em delegar é que esta é a única – repito, única – forma de multiplicar o tempo. Sim, ao delegar você não está somente economizando o seu tempo. Você o está multiplicando. E lembra aquela história que o tempo, ao contrário das outras pontas da Estrela, só dispõe de uma única fonte – as 24 horas do dia? Então… tudo mentira.

Desculpe se esta não lhe pareceu uma atitude muito nobre da minha parte, mas talvez você não estivesse preparado para este choque algumas páginas atrás. A verdade é que dá para burlar o esquema das 24 horas por dia. E você consegue isso ao delegar.

Funciona assim. Pense na quantidade de trabalho que uma pessoa precisa fazer como responsável pelo departamento pessoal de uma empresa com mil funcionários.

Agora imagine que essa pessoa pode contar com dois assistentes. O trabalho a ser realizado não mudou, mas o tempo que o responsável utilizará para concluí-lo é muito menor, porque ele está tomando emprestado o tempo alheio.

Isso não é, de modo algum, uma postura condenável, pois que um valor está sendo pago, ou seja, o tempo alheio está sendo adquirido, como uma mercadoria, porque a outra pessoa decidiu vendê-lo pelo preço combinado (o salário).

Essa é, na verdade, uma grande ideia. Não há dúvidas que o profissional do exemplo acima poderia ficar com os três salários – o dele próprio e o dos dois assistentes – caso optasse e fosse capaz de realizar tudo sozinho. Para os custos da empresa, em teoria, daria no mesmo.

Mas nem sempre isso é possível. É só imaginar que esse trabalho, se for mesmo realizado por três pessoas durante oito horas todos os dias, demanda 24 horas diárias. Como uma pessoa faria isso sozinha?

Obs.: Veremos um mecanismo parecido para que você possa usufruir dessa mesma vantagem no próximo texto, quando formos falar desse assunto tão querido de todos nós: o dinheiro.

Por fim, lembre-se de que delegar é uma habilidade e, como qualquer outra, pode ser exercitada. Sugiro fortemente que você exercite a sua – isso no caso de você ter na liberdade um de seus objetivos da vida.

 

 

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