Tempo (p. 1)

TEMPO

Conforme antecipado, repetições:

Repetição 1: O supremo objetivo do Amplitudo é oferecer meios para você ampliar sua liberdade.

Repetição 2 (adaptada): A forma como o Tempo está ligado a esse objetivo é a seguinte: o uso deficiente do tempo pode restringir sua liberdade.

Repetição 3: Ativos são bens que você possui resultantes de esforços passados e dos quais futuros benefícios podem ser obtidos.

Tempo no dicionário:

1. A sucessão dos anos, dos dias, das horas, etc., que envolve, para o homem, a noção de presente, passado e futuro.

2. Momento ou ocasião apropriada (ou disponível) para que uma coisa se realize.

Deixemos um pouco de lado a primeira definição para nos atermos à segunda, muito mais pertinente ao nosso objetivo, e perceberemos como ela poderia ser, perfeitamente, a definição de oportunidade se apenas substituíssemos o vocábulo. Veja:

Oportunidade: momento ou ocasião apropriada (ou disponível) para que uma coisa se realize.

Dessa profunda semelhança já podemos extrair um valioso pensamento: aquele que perde tempo perde oportunidades.

Não é difícil enxergar o processo acontecendo. Normalmente, a oportunidade está relacionada com a ocasião e com a exclusividade. Com a ocasião porque a oportunidade de um dado momento pode não estar disponível em outro. E com a exclusividade porque, quando uma oportunidade é aproveitada por alguém, pode ficar indisponível para todos os outros.

Exemplos ilustrativos. Você planeja com extrema dedicação uma viagem à Europa, pois civilizações antigas lhe agradam muito. Já no Velho Mundo, toma conhecimento de que haverá um grande evento dentro de um tema que você tanto aprecia, mas que, por alguma razão, só se repete a cada dez anos.

– Um exemplo um tanto irreal, não é, Álvaro?

Eventos que ocorrem a cada dez anos? Pois é. Tudo em nome da didática. Continuemos…

Se você não for ao evento, só dali a dez anos. Mas caso não possa estar presente no evento seguinte, estamos falando de uma oportunidade que só se apresentará novamente depois de vinte anos.

Como ter certeza de que você poderá estar naquele mesmo lugar vinte anos depois?

Esta é, portanto, a relação da oportunidade com a ocasião. Não é sempre assim (tanto que exageramos um pouco no exemplo), mas, às vezes, se a oportunidade é perdida, pode estar perdida para sempre.

Agora pense sobre uma visita a uma fábrica. Você vê as instalações, conversa com os engenheiros e se maravilha com a produção de um determinado item.

Aí, de repente, tem uma ideia.

Analisando todo aquele processo, você imagina um novo produto reunindo funções combinadas de produtos atuais; algo muito interessante e possivelmente vendável.

Um engenheiro amigo seu concorda em levar sua ideia ao laboratório e iniciar uma fase exploratória para verificar a viabilidade. Após alguns dias, boas notícias: parece que vai dar certo.

Após algumas semanas, ótimas notícias: todo o pessoal do laboratório está muito entusiasmado. A ideia já subiu para a diretoria, que se interessou e já estuda meios de implementá-la.

Após mais alguns dias, péssimas notícias. O pessoal do jurídico localizou sua ideia registrada como uma patente industrial. E, então, como diria John Lennon, o sonho acabou. Como uma patente é uma propriedade intelectual, você não pode se apoderar dela. Precisa alugá-la ou comprá- la, se quiser desenvolvê-la.

E esta é, portanto, a relação da oportunidade com a exclusividade. Não é sempre assim (e dessa vez nem exageramos no exemplo), mas, às vezes, uma oportunidade, uma vez aproveitada por alguém, não estará disponível a mais ninguém.

– Álvaro, veja só. Havia um item chamado oportunidade em Os Tijolos e você poderia ter escrito tudo isso lá.

Sim, eu poderia, mas quis deixar bem claro como o tempo se parece com a oportunidade para que você, depois, não reclame que não teve oportunidades na vida – culpando a sorte – quando, na verdade, o que não soube foi utilizar bem o tempo.

Sim, porque, se falamos de tempo, não podemos mesmo falar de sorte, porque nada é tão igualmente disponível a todos os seres humanos quanto as horas de um dia (muitos concordam que são vinte e quatro).

Tudo, absolutamente tudo que qualquer pessoa possa ou queira fazer em um dia deverá ser realizado dentro desse intervalo.

Por que, então, umas pessoas realizam mais e outras menos? Por que a umas pessoas parece faltar tempo enquanto a outras, parece sobrar? Respondo com convicção: escolhas.

Imagine um rapaz que, desde menino, precisa ajudar o pai na feira, acordando às 03h30 da manhã em vários dias da semana. Você pode dizer que ele não tem tempo – e isso não se dá por escolha, mas por falta de opção. Concordo. Mas vamos com calma, pois dentro do que o rapaz pode escolher está a seguinte atitude: estudar para melhorar sua condição.

Para que você não pense que se trata de mais um exemplo exagerado, afirmo que eu conheci essa pessoa. Aos dez anos, ajudava o pai na feira. Aos seus quarenta anos, ele era engenheiro e desenvolvia projetos para uma das maiores siderúrgicas da América Latina, além de falar com muita propriedade não apenas o seu próprio idioma, mas também outros três, incluindo o alemão que, convenhamos, não é a coisa mais fácil desse mundo.

O caso é real. E o rapaz da feira certamente soube aproveitar o tempo que havia disponível para não deixar a cargo da “sorte” os acontecimentos de sua vida.

Pensando naquela história de oportunidade e ocasião… Você consegue imaginar o que possivelmente teria acontecido se o rapaz da feira tivesse deixado passar aquele específico momento de sua vida em que podia estudar, em que sua mente estava ávida e capacitada para aprender, deixando para fazer tudo isso quando já tivesse passado dos cinquenta?

Vejo, por vezes, pessoas que não tiveram boas oportunidades na juventude retomando os estudos em um estágio mais avançado da vida e afirmo: muito melhor isso que nada. Defendo e apoio totalmente a iniciativa. Mas dizer que o rendimento é igual a quando se é jovem é ignorar a realidade e incorrer em erro.

Uma característica interessante quanto ao uso do tempo é que as vantagens são cumulativas, pois quem está habituado a observar o uso do próprio tempo para aprimorá-lo, costuma fazer isso a vida inteira. E os ganhos de tempo daqui acabam sendo empregados em ganhos de tempo acolá.

Por isso, as pessoas que bem sabem usar o tempo atribuem considerável parte da qualidade de suas vidas a essa habilidade.

Veja que reflexão interessante. Antes, falamos sobre Relacionamentos. Pense comigo: alguns relacionamentos que não se conseguem de nenhuma outra forma talvez se consigam com o tempo. Alguns relacionamentos – os melhores, por sinal – não podem ser construídos baseados, por exemplo, no dinheiro. Você nunca terá certeza de sua veracidade. Mas dê tempo a um bom relacionamento para vê-lo ampliar continuamente sua qualidade.

Falamos também de Saúde. Pense que, se a disposição e a plena capacidade física ficam comprometidas após uma cirurgia, a recuperação tende a se dar com o… tempo. Nada pode substitui-lo.

Ainda não falamos das pontas Dinheiro e Conhecimento de nossa Estrela, mas anteciparemos rapidamente para não perdermos o paralelismo. Veja o que o tempo pode fazer com o dinheiro, se ambos forem bem utilizados: crescimento, crescimento, crescimento.

E veja o que o tempo pode fazer com o conhecimento: trata-se do único meio de transformá-lo em sabedoria.

O tempo é, realmente, um artigo maravilhoso. Ele – e não o dinheiro – é a verdadeira base para todas as realizações humanas. Sim, porque você consegue realizar várias coisas sem dinheiro – ainda que seja um pouco mais difícil (ou muito). Mas se não houver tempo, você não realiza nada.

Analisemos agora outro aspecto desse nosso precioso tesouro: sua impermanência.

Que contradição, não é? No tijolo permanência discutimos a importância da duração das coisas. Ora, o tempo é o que lhe permite usufruir da permanência de tudo que é… permanente. E o tempo, em si, é absolutamente impermanente. Em palavras curtas e já bem conhecidas por alguns: não dá para estocar tempo.

Pensemos nas outras quatro pontas da Estrela. Não há dúvidas, por exemplo, que você pode acumular Conhecimento, conforme estuda e observa o mundo à sua volta durante toda uma vida.

Dinheiro, então, nem se fala. Um desempregado com uma enorme poupança estará sempre bem, pois estocou dinheiro. Até me fez lembrar a fábula das formigas e da cigarra.

Pode parecer que não, mas até Saúde você estoca. Uma pessoa muito saudável que começa a ter hábitos ruins demora mais até adoecer seriamente do que uma pessoa que já possui um histórico de saúde debilitada e passa a desenvolver os mesmos hábitos ruins.

Relacionamentos também podem ser armazenados. Você cuida deles direitinho e eles produzem ainda novos relacionamentos. E se administrados ainda que apenas por um pequeno período, muitas vezes duram para sempre, mesmo se o contato frequente for diminuído ou até interrompido. E se der tudo muito errado, você ainda consegue recuperar um relacionamento com uma coisa chamada perdão.

Agora, o tempo… esse já foi. Foi embora enquanto você lia as palavras desta frase.

Obs.: Mais uma razão pela qual espero que esteja valendo a pena.

Por isso, a importância de administrar o tempo é vital, talvez superior às outras quatro pontas. E que isso não sirva de argumento para você considerar o tempo mais importante que seus outros ativos. Estamos somente ressaltando quão frágil é sua administração, fragilidade essa que se dá também por outra característica que pode ter passado despercebida: a fonte.

Veja que, ao contrário do que ocorre com o Tempo, cuja única fonte reside nas horas do dia, para todas as outras pontas de sua Estrela há mais de uma fonte.

Saúde: se você não pode dormir tanto quanto gostaria, talvez consiga compensar alimentando-se de forma exemplar e praticando exercícios.

Relacionamentos: se você se desentendeu com uma pessoa e ela definitivamente não quer mais saber de você, outras quererão.

Dinheiro: se você perdeu seu emprego e, consequentemente, sua renda, pode compensar realizando outro tipo de trabalho em outro lugar, ou vivendo de um ou outro aluguel que possua, ou dos direitos autorais de um livro que escreveu, ou da reserva de uma poupança…

Conhecimento: se você se esqueceu das fórmulas trigonométricas do tempo de escola e, a essa altura do campeonato, seu professor já possa ter passado desta para a melhor, certamente outro poderá ajudá-lo a reconquistar esses conhecimentos.

Essa análise da multiplicidade de fontes inerentes a cada uma das pontas de sua Estrela – exceto, como dissemos, o Tempo – é muito desejável, pois torna ainda mais clara a importância e a delicadeza da administração desse ativo.

Passemos, agora, a alguns exemplos mais práticos. Afinal, o Tempo, por si só, já é bastante intangível, e nós ainda estamos teorizando e filosofando sobre ele…

Pense sobre a distância que você mora do seu trabalho. Isso, caso trabalhe, é claro. Como vou falar de opções e escolhas, estou certo de que você entenderá que os argumentos abaixo são aplicáveis àqueles que possuem opções e, portanto, possam fazer escolhas (sim, porque alguns não podem).

Mas, se analisarmos com carinho, quase todos podem. Vamos supor que você more em uma grande cidade como, por exemplo, São Paulo. O trânsito nessa cidade é uma das coisas que mais contraria a boa utilização de tempo de um indivíduo.

Para chegar ao seu trabalho, você leva cerca de uma hora e meia (carro, metrô, ônibus, não importa). Seu argumento para não morar mais perto do trabalho é que você não consegue, por exemplo, comprar um apartamento nas proximidades e, como o local onde você mora é próprio, não faz sentido alugar um imóvel para morar se você já possui um.

E após esta aparentemente lógica declaração, preciso lhe dizer: você está errado.

E por quê? Porque o seu atual imóvel também pode ser alugado para terceiros. Agora imagine se houver uma equivalência, ou seja, o valor que você consegue alugando seu imóvel para um terceiro é o mesmo que gastará alugando para si outro imóvel que lhe permitiria chegar ao trabalho em meia hora à pé.

Vamos às contas. Economia de uma hora por dia na ida e mais uma hora na volta, mais a economia no custo de transporte. Existe ainda uma economia de difícil mensuração que é a melhora da sua saúde, pois você passou a caminhar uma hora por dia. Se pagava a academia para fazer basicamente exercícios de esteira, pode pensar em cancelar esse gasto também.

Obs.: Não venha me dizer que a poluição não colabora com o exercício da caminhada, pois, a não ser que você use balão de oxigênio no carro, no metrô ou no ônibus (e até na academia), o ar vem do mesmo lugar.

Deixando de lado esses imponderáveis detalhes, vamos nos ater somente às claras diferenças: as duas horas por dia e o dinheiro do transporte, estimados, aqui, para efeitos práticos, em R$ 150,00 mensais, imaginando uma média entre R$ 100,00 de transporte público e – pelo menos – uns R$ 200,00 caso o transporte seja o automóvel.

Obs.: Se no momento em que você lê esse texto os valores acima não parecerem reais (talvez por causa da inflação ou de presidentes loucos), lembre-se de que não estamos realizando uma análise orçamentária criteriosa, mas apenas estabelecendo um ponto de vista.

Em um ano de trabalho, descontando o mês de férias, alguns feriados e os dias que você faltou porque a sessão da tarde estaria imperdível, vamos imaginar 46 semanas de trabalho. Cada uma tem cinco dias e, a cada dia, você joga duas horas do seu tempo no lixo. A cada ano, portanto, temos 460 horas suas que, após passarem pelo ralo, foram flutuar nas límpidas águas do Tietê.

Não se esqueça de que, a cada ano, você também economiza R$ 1650,00 em transporte (neste caso, o valor mensal vezes onze meses).

Caso um dia você deseje receber uma aposentadoria para poder ver ainda mais sessões da tarde, precisará trabalhar muito tempo. Algo perto de 30 anos. Serei bonzinho e imaginarei que, desses trinta anos, você só permanecerá um terço nesse ritmo de desperdício até acordar.

Dez anos resultam em 4.600 horas desperdiçadas.

Dez anos custaram R$ 16.500,00 em transporte.

Se quisermos pensar de forma rasa, podemos ir pelo seguinte caminho: não interessa quanto custa um apartamento perto do trabalho: dezesseis mil reais ajudam.

Mas essa conta é linear. Em dez anos, você certamente investiu bem o dinheiro que economizou, porque é muito disciplinado. Em qualquer investimento ruim (pensou em poupança? – eu também) seu montante acumulado já seria não mais dezesseis, mas 22 mil (juros de 0,5% ao mês). Supondo que você resolveu estudar um pouquinho sobre investimentos ao longo desses dez anos, você pode ter bem uns 30 mil. Não interessa quanto custa um apartamento perto do trabalho: trinta mil ajudam. Mais que dezesseis, certamente…

Se nos lembrarmos do tijolo multiplicação, podemos ir além. Que tipos de cursos você poderia fazer com dezesseis mil reais ao longo dos dez anos? Dá para pensar em pós-graduação, certamente. Um mestrado, talvez, com algum esforço extra.

Será que o aumento obtido em sua remuneração salarial como fruto de um mestrado (certamente não menos que uns R$ 1.500,00 em São Paulo) não daria para bancar um aluguel de um apartamento perto do trabalho?

– Álvaro, o tema deste documento é o tempo, e você só está falando do dinheiro do transporte.

Ora, será que alguém se esqueceu das quatro mil e seiscentas horas jogadas no lixo? Se você vai pagar pelo mestrado, é bom ter um tempinho para estudar, certo? Quatro mil e seiscentas horas talvez sejam de alguma serventia…

E após essa demonstração de que o foco de nossa conversa não foi perdido, insistiremos no binômio tempo-dinheiro com um caso ocorrido com o autor, este que lhe fala.

Existe uma iguaria árabe feita com grão-de-bico (uma espécie de pasta, ou patê – uma poderosa argamassa, isso sim) chamada homus. Bem, essa me parece ser a grafia oficial, mas já encontrei escrito e pronunciado de tudo quanto é jeito.

Quando estive analisando oportunidades empregatícias após o encerramento não intencional de minhas atividades de empreendedor (lê-se: desempregado depois de falir), percebi, rapidamente, que o transcurso desse tempo se daria melhor caso algum dinheirinho entrasse. E eu gostava para caramba desse tal de homus que meus pais faziam. Bem, eu gostava, meus pais gostavam, minha irmã gostava. Outros também poderiam gostar. E aquela distinta iguaria não era encontrável facilmente em estabelecimentos comerciais.

– Parece uma oportunidade, não?

Exato. Eu tinha um produto em potencial.

Fiz algumas receitas até chegar ao que julguei ser o balanceamento ideal entre grão-de-bico, água, tahine (pasta de gergelim), sal e azeite de oliva extra virgem.

Foi um período delicioso de minha vida. Literalmente.

Busquei, então, embalagens. Encontrei. Depois fiz um cálculo de custo buscando encontrar uma margem que me satisfizesse e mantivesse o produto viável do ponto de vista comercial-financeiro. Encontrei também.

De qualquer forma, era isso: três quilos de grão-de-bico em três panelas de pressão (simultâneas no fogão, é claro, porque eu tenho amor pelo meu tempo), misturados e envazados, tudo com a ajuda de meu grande pai (inclusive seguidos de louça e fogão limpos, para não aborrecer minha grande mãe) consumindo três horas totais de trabalho e resultando em potinhos que, após vendidos, rendiam um retorno líquido de R$ 160,00.

Claro, tinha ainda o tempo da venda, porém as três horas de tempo total, na verdade, eram uma e meia, porque enquanto a panela de pressão ficava chiando eu podia fazer outra coisa. Uma delas era ligar para as pessoas dizendo que uma receita estava ficando pronta e já garantir a venda de boa parte dos potinhos antes mesmo de sair de casa.

Imagine se eu conseguisse fazer tudo isso umas dez vezes em um mês? Salário livre de R$ 1.500,00 (supondo R$ 100,00 de custos operacionais de compra e venda), livre também do imposto de renda porque, afinal, oficialmente, eu era um desempregado. Mas não conte para o governo, por favor.

Está ficando mais claro por que as pessoas dizem que tempo é dinheiro, não está? Eu estava desempregado. Eu tinha muito tempo. E, já que era assim, comecei a buscar jeitos de converter esse muito tempo em algum dinheiro.

Histórias das arábias à parte, o que deve ficar é o seguinte: você pode atingir mais objetivos – e mais rapidamente – se utilizar o seu tempo para crescer, seja nas finanças, seja em outra área – que muito provavelmente, no fim, você vai converter em dinheiro também para, então, converter o dinheiro na conquista final de seu objetivo.

A economia de tempo é um meio de você atingir seus objetivos, sendo que entre esses está o que, para nós, amplituders, é o maior de todos: a liberdade. Nem poderia ser diferente, visto que, se o tempo é um ativo, quanto mais você tiver desse valioso artigo à sua disposição, mais condições terá de trocá-lo por outras coisas.

Para não me estender ainda mais nesse subtópico (lembre-se de que estávamos falando do tempo de deslocamento até o trabalho), finalizarei o assunto daqui a pouco, quando falarmos de disciplina.

Isso não significa que cessaram os exemplos. Mas, ao final, eles culminam em uma conclusão repleta de esperança. Você vai ver.

Examinemos, agora, outro interessante assunto: o pedágio. Já vi muitas pessoas tomarem um caminho diferente para contornar um pedágio em uma estrada. É claro que se o caminho alternativo fosse equivalente ao principal, todo mundo iria por ele. Aliás, nele também haveria um pedágio. Obviamente, não é o que acontece.

O caminho que você pega para desviar de um pedágio normalmente é mais longo – às vezes, bem mais longo – que o caminho principal.

Se analisarmos apenas o tempo despendido, podemos fazer a seguinte conta, baseada em um pedágio real que conheço e que as pessoas costumam evitar. O custo (ida e volta) é de R$ 4,00 e o tempo para evitá- lo nos dois sentidos, cerca de meia hora.

Ao evitar esse pedágio, você está dizendo que seu tempo não vale mais que 8 reais a hora. Sim, esse comentário foi muito maliiigno, e vamos desenvolvê-lo agora aumentando ainda mais a malignidade.

Seis vezes que você realize a proeza de evitar esse pedágio lhe renderiam R$ 48,00 – consumindo, é claro, três horas de sua existência. Será que ainda está fresco o valor líquido que eu criava ao produzir homus utilizando as mesmas três horas? Eram simpáticos R$ 160,00.

– Mas, Álvaro, se seu pai ajudava, tecnicamente esse valor pode ser líquido, mas não é todo seu.

Aceito a contestação. E aprecio a sua vivacidade e esperteza. Porém perceba que, após dividirmos o resultado em dois ainda sobrariam R$ 80,00 para mim. E, não é necessária matemática avançada para demonstrar que 80 é maior que 48…

Porém não acabou, pois contra a sua impertinência eu ainda tenho mais cartas na manga. Se você quer colocar o meu pai na jogada, lembre-se de que, enquanto a panela chiava, não era somente eu que podia fazer outras coisas. O tempo do meu pai também ficava disponível.

Na verdade, nós aproveitávamos a situação para realizar uma atividade “família”, mas, friamente falando, sem a ajuda do meu pai, embora aumentasse o tempo total necessário, nem de perto chegava a dobrar. Isso significa que, contabilmente, meu ganho ainda era superior aos R$ 80,00 a que você me reduziu. Truco.

– Certo, Álvaro, faz sentido. Mas não nos esqueçamos da adequação ao tema – você já havia encerrado a história do homus para falar do pedágio e acabou voltando ao mesmo assunto…

Bem, nesse ponto, você está certo. Mas só está sendo tão exigente assim porque não provou o homus. Do contrário, voltar a ele seria sempre um motivo de alegria…

Ainda nos resta lembrar que existe um fator importante além da economia de tempo: os caminhos que evitam pedágios costumam sacrificar mais o automóvel. E quem está habituado a gastar com manutenção do carro sabe que os custos não são pequenos.

Essa questão do pedágio nos leva a uma comparação que você pode julgar sem propriedade, mas, no fundo, demonstra o mesmo argumento: jatos particulares (ou helicópteros).

Obs.: Não, eu não tenho nenhum dos dois. Mas não é por falta de vontade. É só por que ainda não encontrei um modelo na cor que me agrada…

Antigamente, eu costumava pensar que esses empresários muito ricos voando para lá e para cá em seus aeroplanos particulares nada mais eram do que grandes vaidosos e exibicionistas. Bem, alguns até são. Mas outros, não. Você pode dizer que se trata tão somente de luxo em alguns casos, mas, em outros, trata-se tão somente é de produtividade.

Nem eu acredito que vou falar do homus de novo, mas vamos lá…

Pense comigo. Se você comparar o meu rendimento em “horas-homus” e o rendimento de um empresário em horas-reunião, virarei pó. Mas essa comparação será útil porque você perceberá que, se o preço do meu pedágio é quatro reais – e compensa pagá-lo – o preço do pedágio do empresário rico é ter o helicóptero – e compensa tê-lo.

Ou você acha que ele não é capaz de gerar valor com o tempo que economiza em viagens? Ora, ele é empresário. Seu trabalho é exatamente transformar seu tempo em dinheiro.

Se a realidade do empresário rico está longe da sua (certamente está da minha), voltemos ao nosso mundo real e fixo ao chão.

Certamente, você já parou para pensar nisso: tudo o que automatiza salva tempo. Bem, ao menos deve ter pensado um pouco nisso quando falamos sobre o assunto, em Os Tijolos.

Se no seu trabalho você recebe e-mails, por exemplo, pode certamente se beneficiar do que são chamadas regras para colocar categorias específicas de mensagens em seus devidos lugares: familiares em um lugar, propagandas em outro, informativos do Amplitudo em outro (bem especial) etc.

Essas regras precisam ser cadastradas por você e isso toma tempo, é verdade. Mas toma tempo uma vez só. Arrastar uma nova mensagem para uma pasta toda vez que ela chega consumirá muito mais tempo, mesmo porque é uma atividade que se repetirá eternamente.

E se o seu trabalho demandar o uso intenso do e-mail, ainda há outras coisas a fazer. Você pode ser responsável pelo atendimento ao cliente, por exemplo, ou ser o financeiro, que precisa informar constantemente dados para depósito bancário em caso de boletos atrasados. Nesse caso, o que acha de ter o esqueleto desse texto pré-redigido em outro lugar para copiá-lo e colá-lo em cada nova mensagem, mudando apenas uma ou outra linha e o nome do seu distinto e querido cliente inadimplente?

Obs.: Especificamente em relação a isso, seu software de e-mail há de ter uma ferramenta chamada template, que permite que tudo isso acima seja feito dentro do próprio software. Vale a pena pesquisar mais o assunto.

Subamos na hierarquia. Você respondeu e-mails muito bem a vida toda e isso lhe rendeu uma promoção. Agora você faz reuniões e fecha grandes contratos para a empresa. Em uma função como essa, uma secretária, assim como um helicóptero, economiza muito tempo.

Obs.: Evitei comparar secretárias a aviões para que alguns leitores do Amplitudo possam mostrar este conteúdo às suas esposas sem maiores problemas.

Se você viaja muito a negócios e, com essas viagens ganha dinheiro, é importante que nos contratos a serem fechados com seus clientes seja colocado o custo de uma secretária, pois viajar a negócios lhe traz dinheiro, mas planejar e organizar a viagem lhe rouba dinheiro. Talvez você se lembre de que falamos exatamente sobre esse caso no item Custo, em Os Tijolos, sob o título “o custo de não ter custo”.

Passemos, agora, à questão da consciência da realidade e de seu conhecido oposto, a ilusão.

Existe um referencial estranho em nossa sociedade atual, indicando como positiva a situação onde uma pessoa se encontra constantemente sem tempo para nada, talvez por sugerir muitos compromissos, afazeres, sucesso, algo assim. Como diria Christian Barbosa: o mundo moderno transformou o estresse e a correria corporativa em algo “chique”.

Essa situação, no entanto, não é positiva e a correlação entre não ter tempo e ser muito produtivo costuma até mesmo não ser verdadeira.

Pense comigo. A pessoa ocupadíssima pode ser simplesmente muito desorganizada ou não saber priorizar suas atividades – ou ambos, o que tem quase o impacto de uma bomba atômica na qualidade de vida de um ser humano.

Vale até mencionar uma curiosidade. Certa vez, uma pessoa me solicitou uma providência qualquer já supondo que aquilo me incomodaria por me tomar tempo. Qual não foi sua surpresa quando eu disse que ela não precisava se preocupar porque eu dispunha de muito tempo livre.

As pessoas estão tão acostumadas a ouvir de todo mundo que ninguém tem tempo para nada que uma declaração como esta gera os mais diversos sentimentos na outra pessoa, passando do riso – caso ela pense que você está sendo irônico – até a inveja – quando ela percebe que você não estava.

Na empresa onde trabalho, busco constantemente fazer as pessoas compreenderem que o trabalho deve produzir resultados. Não é o tempo que elas passam trabalhando, mas o resultado advindo desse trabalho. Se você for pensar friamente, o profissional ideal é o que trabalha menos. Mas é o que trabalha menos por missão cumprida, pois isso significa que é muito mais eficiente. Ele tem o direito de trabalhar menos porque, na verdade, trabalha o mesmo tanto – ou mais – que seus companheiros – porém em menos tempo.

Isso nos leva à investigação de outra variável relacionada ao tempo, que é a sua qualidade. É relativamente fácil analisar o uso do tempo em relação à quantidade. Mas a qualidade do tempo, ou seja, o modo como ele é utilizado, é mais sutil.

Em geral, as pessoas que possuem uma segunda atividade além de seu emprego padrão “8×5” costumam gerar mais resultados que outra pessoa conseguiria obter utilizando, por exemplo, o seu mês de férias para realizar a mesma atividade (a secundária).

Talvez você já deva ter visto acontecer, e talvez tenha acontecido com você mesmo. Existe um mês inteiro de férias, nada para fazer e, então, você decide que utilizará aquele mês para realizar determinada tarefa entre ler, reparar a casa, construir um aeromodelo etc.

Aquele montão de tempo livre cheio de promessas e possibilidades (o mês de férias) passa em um instante. Bem, existem explicações para o fenômeno físico da contração do tempo, mas, aqui, podemos identificar uma razão que não tem nada de quântica: a pessoa, que, durante o ano inteiro possuía disciplina (ainda que forçada) para realizar suas atividades profissionais, não mantém o mesmo hábito no mês de férias.

Obs.: Veja bem, não é que eu seja (tão) chato; não estou querendo privar a pessoa de seu merecido descanso anual. Mas estamos falando dos sonhos dela. Foi ela que esperou ansiosamente pelo mês de férias para realizar tarefas que, supostamente, refletem os sonhos que ela alimenta. Imagino que este deveria ser um momento de profundo e intenso entusiasmo. Mas a pessoa, que se dedica muito e faz sacrifícios durante um ano inteiro quando realiza coisas para os outros, dedica-se pouco e faz pouquíssimos sacrifícios quando realiza coisas para si mesma. Posso ter um jeito estranho de pensar, mas está aí uma coisa que não consigo entender. É como se os objetivos do outro (patrão, empresa, clientes) fossem muito mais importantes que os seus próprios.

Enquanto isso, aquele que, no mesmo mês, estava trabalhando, fez muito mais com muito menos tempo disponível. Talvez, ao longo de todo o ano, mantendo alguma disciplina e aquele “horariozinho sagrado”, ele tenha sido capaz de ler, fazer alguns reparos na casa, construir um aeromodelo… Imagine quando chegarem as férias desse indivíduo. É capaz de ele ir à Lua e voltar – e ainda sobrar uma semaninha livre ao final. A razão? A consciência de que se dispõe de um tempo “apertado” aumenta a concentração na atividade, aumentando, assim, também a produtividade. A maneira (modo) com que se trabalhou fez tanta diferença que compensou a escassez de tempo com inteligência, concentração, método e por fim, produtividade, implicando no grande final: resultado. Não há dúvida que a qualidade do tempo nesse segundo caso é bem maior que a do primeiro, ainda que no primeiro caso a pessoa dispusesse de mais quantidade de tempo (as férias).

Como nós falamos que os exemplos levariam a uma única conclusão, vamos a ela: só é capaz de dar valor à economia de tempo quem é capaz de aproveitar o tempo economizado para gerar valor.

Se você só consegue gerar valor trabalhando no seu emprego regular e dentro do ambiente da sua empresa, uma economia de tempo ao fazer compras no supermercado, por exemplo, significará pouco para você. Talvez só sirva para que tenha ainda mais tempo para ver televisão. Como não faz diferença, você não se preocupa em melhorar. E com isso, o tempo vai embora e você nem percebe.

Mas se, por outro lado, você escreve, compõe músicas, realiza trabalhos voluntários junto aos carentes, pinta quadros, restaura obras de arte, esculpe, entalha, cozinha, levanta paredes ou qualquer outra habilidade além de sua ocupação profissional principal, certamente pode alcançar seus objetivos mais rapidamente se não perder tempo com bobagens e, em vez disso, colocar esse tempo a serviço de seus sonhos.

Eis que, conclusão apresentada, ainda tenho duas coisas a falar. A primeira é uma antecipação do que veremos em Permuta e Sinergia, onde será feita uma análise das combinações entre as pontas da sua Estrela. Observe como, no geral e dentro da normalidade – o que exclui, obviamente, os suicidas – as pessoas desejam viver mais. Quanto mais for possível, mais elas quererão viver.

Mas veja o jeito pelo qual as pessoas querem viver mais. Elas pensam que se, em vez de morrer aos setenta anos, chegarem até os cem, terão vivido mais. Não tenho dúvida que sim. Mas lembre-se do que falamos há pouco sobre qualidade e quantidade de tempo, o que nos permitirá arrematar este pensamento conectando Tempo e Saúde.

Você já parou para pensar que se você economiza tempo é como se estivesse criando outra vida dentro da sua que já existe?

Obs.: Foi bom termos usado um pouco de exemplos práticos, não é? Parece que a filosofia voltou com a corda toda nesse último parágrafo.

Agora, diga-me, entre essas duas opções, qual você escolheria. A primeira opção é viver mais trinta anos, dos setenta aos cem. A segunda é viver mais trinta anos, só que desse jeito: quando você chegar aos cinquenta, volta aos vinte e, então, vai até os setenta.

Visto que a quantidade de tempo adicionado é a mesma, não há dúvida que a sua vida dos vinte aos cinquenta tem todas as razões do mundo para ser mais bem aproveitada do que sua vida dos setenta aos cem. Só o fato de você ter muito mais saúde para aproveitar o tempo já é argumento mais que suficiente.

– Um pouco estranha essa ideia, Álvaro, de viver de novo o mesmo período… Mas entendo que se trata apenas de mais um exemplo didático, certo?

Errado. Totalmente errado. O que você está considerando apenas uma divagação surreal é exatamente o que acontece com pessoas que aproveitam melhor o tempo.

Pense comigo, pois este talvez seja o reluzente ouro que estivemos buscando ao longo de nossa jornada nesse texto. Se entre os meus vinte e os meus cinquenta anos eu usar meu tempo com o dobro da eficiência com que você usa o seu, eu terei vivido, comparado a você, duas vidas nesse período.

Loucuuura, não?

Bem, essa era a primeira coisa que eu tinha a falar. E, certamente, depois de algo assim, o que virá em seguida não causará tanto impacto. Mas é necessário, à guisa de esclarecimento.

Você percebeu que nos dois últimos textos (Saúde e Relacionamentos) após um início de texto livre sobre o tema, tínhamos alguns conceitoschave nos quais o assunto foi dividido para facilitar a compreensão. Em Saúde, por exemplo, listamos alimentação, sono, exercícios etc.

Em todos os textos essa estrutura foi possível, mas não consegui isso aqui. Como o Tempo tem uma natureza muito abstrata, quando fui relacionar os conceitos-chave para melhor estruturar a disposição do texto, percebi que todos eram tijolos.

Sendo assim, pegue a sua marmita que a gente se vê direto na construção.

 

CADASTRE-SE NO
AMPLINEWS