Conhecimento (p. 5)

Mas, até descobrir isso, a pessoa foi enganada algumas vezes e perdeu um montão de dinheiro sem nem sequer se dar conta disso.

Ainda tenho uma questão final reservada para você antes de podermos encerrar. Pensando no risco de não tê-lo convencido que toda essa verborragia (essa “numerragia”, se me permite) tem relação com a sua vida, convido-o para um passeio. Sim, vamos dar uma volta no supermercado, eu e você.

O supermercado é um lugar incrível. Ele permite a mágica de trocar o seu dinheiro por itens essenciais à sua sobrevivência. O problema é que, às vezes, você deixa mais dinheiro lá do que precisaria. E não percebe isso. Em nossa volta pelos corredores, demos uma olhada nas novidades, conversamos um pouco sobre o Amplitudo e discutimos brevemente alguns dos problemas que assolam a Sindávia. De repente, paramos diante da prateleira de granola.

Obs.: Eu tinha pensado em usar o exemplo com achocolatados, mas teria que colocar novamente o aviso sobre o açúcar refinado. A granola é uma opção melhor.

Estamos diante das granolas. Há diversas marcas, é claro, mas supomos que você as considere equivalentes. Assim, fica mais fácil, por exemplo, optar por qualquer uma entre as diversas opções de 500g. Bastará escolher a mais barata.

Ah, mas o mundo não é tão simples. Na prateleira existem embalagens de 350g, 600g e 750g. Para tornar sua vida ainda mais interessante, um fabricante com TOC teve a ousadia de oferecer suas opções em embalagens de 473g e 795g. Por experiência, você sabe que embalagens com quantidades maiores tendem a compensar, mas isso, é claro, apenas se forem de uma mesma marca. Prova disso é que, ao olhar bem, a TOC Granola de 473g está mais barata que a Vida Mais Granola, de 500g. Mas a de 795g está somente alguns centavos mais cara que a de 750.

E agora, o que fazer?

Bem, se você fosse um pouco mais íntimo de uma ferramenta matemática chamada regra de três, seus batimentos cardíacos não teriam se acelerado. Bastaria utilizá-la para comparar as granolas e você certamente descobriria a mais em conta, independente da quantidade oferecida.

Aí você pode argumentar que eu não tenho nada a ver com a sua vida, que o dinheiro é seu, e que não vai ficar fazendo miserinha de centavo no supermercado. Tem mais: se lhe der na telha, você vai é comprar a granola que tiver a embalagem mais bonita e pronto.

Eu entendo. E, do fundo do coração, não critico, pois também desprezo centavos muitas vezes na vida em nome de mais conforto, prazer ou praticidade. E, se formos pensar bem, granolas totalmente equivalentes são uma coisa que só encontramos em exemplos didáticos. Lá no fundo, gostamos mesmo é “daquela lá”.

Mas, e se em vez do supermercado, você estivesse realizando o seu trabalho como responsável pelo departamento de compras de sua empresa, uma multinacional do ramo de mineração? Eu posso continuar não tendo muito a ver com a sua vida, mas agora, não só o dinheiro não é mais seu como também não estamos mais falando de somente alguns centavos.

Passou a fazer diferença, né? Possivelmente, uma diferença vital: a diferença entre continuar ou não empregado.

Então, talvez valha a pena pensar com mais carinho sobre o assunto.

SUPERLATIVO

Uma vez que, anteriormente, classificamos o conhecimento em duas instâncias – horizontal e vertical – podemos imaginar que seu superlativo seja tanto uma vastíssima cultura como uma profundíssima especialização.

Em ambos os casos, ser uma indiscutível referência devido ao que se conhece é a situação que bem descreve o conhecimento elevado ao seu mais alto grau – mesmo que haja ainda sempre mais a se conhecer.

Na outra ponta está uma situação muito triste: não saber nada. Ainda que virtualmente impossível, essa é a impressão que nos causa uma pessoa que não se interessa por coisa alguma, que nada busca visando o próprio aperfeiçoamento e que acaba se tornando alguém que pouco acrescenta à vida dos outros.

A CONSTRUÇÃO

Entramos na reta final do texto, onde – você já sabe – atrelamos o tema a alguns tijolos discutidos anteriormente. São eles: acesso, oportunidade, utilidade, autoridade, intermédio.

Acesso e Oportunidade:

Quando falamos sobre o conceito de oportunidade em Os Tijolos, dissemos isso: “boa parte da falta de oportunidade é, na verdade, incapacidade de garantir o acesso a ela.”.

Por essa razão, trataremos desses dois tópicos em conjunto, entendendo o acesso como um servo da oportunidade. A relação que o acesso mantém com o conhecimento, porém, pode se dar em duas vias, ora figurando como sua causa, ora como sua consequência.

O acesso como causa do conhecimento pode ser analisado na diferença entre uma criança que estuda em uma boa escola e uma que estuda em uma escola ruim. Na escola boa, os alunos terão mais acesso ao conhecimento e, na média, deverão aprender mais que as crianças que estudam na escola ruim.

O acesso como consequência do conhecimento ocorre quando as tais crianças crescem e ingressam na sociedade, quer sejam seres produtivos no mercado de trabalho, quer sejam apenas seres sociais que se relacionam uns com os outros. Conforme tenha sido maior ou menor o conhecimento que elas adquiriram, maior ou menor será seu acesso às oportunidades que a vida poderá oferecer.

Ciclo de crescimento, lembra?

Também dissemos que mais importa a atitude perante as oportunidades do que elas mesmas em si, dada a boa frequência com que ocorrem. Às vezes, porém, a atitude que não permite aproveitar uma oportunidade não é uma questão de escolha, mas da falta dela. E, de uma forma geral, o conhecimento costuma contribuir para melhor aproveitarmos as oportunidades que a vida nos proporciona.

Basta lembrar que, lá atrás, comparamos a oportunidade com o Sol, que está à disposição de todos. Não é necessário qualquer conhecimento para se queimar na praia ou desenvolver um câncer de pele. Mas é necessário conhecimento para aproveitar a grande oportunidade oferecida pelo Sol para a geração de energia elétrica não poluente.

Utilidade:

Aqui há um perigo.

Como saber se o conhecimento é útil? Vejamos: hoje aprendo sobre uns protozoários estranhos que não resistem a um determinado processo de higienização e não consigo encontrar nenhuma utilidade para isso.

Mas amanhã eu me encontro perdido no meio do mato e essa informação salva a minha vida. Foi bom, então, tê-la conhecido, não foi?

O conhecimento em todas as áreas imagináveis não pode ser apreendido, em sua totalidade, por ninguém. Simplesmente não há tempo para isso em uma existência e, para piorar, sempre há conhecimento novo sendo produzido a cada momento. É, portanto, entristecedor quando uma pessoa desenvolve certa ânsia por saber tudo, informar-se sobre tudo o que ocorre e, para satisfazer essa compulsão – como você já deve imaginar – acaba por negligenciar as outras pontas de sua Estrela.

O que, então, devemos procurar conhecer?

Essa pergunta é tão importante quanto delicada é sua resposta. Não há nada mais particular do que essa decisão, mesmo porque, há algumas páginas, falamos sobre como o interesse potencializa a assimilação do conhecimento, influenciando na sua qualidade. E como o interesse varia de pessoa para pessoa, variará, também, o conhecimento adquirido.

Contudo, três tijolos, a meu ver, podem nos nortear nessa decisão. Um deles já foi amplamente discutido aqui: a garantia. Como a garantia está relacionada à utilidade, quanto mais útil você julgar ser um determinado conhecimento, maior deverá ser as chances de ele lhe oferecer garantias.

Em outras palavras, se você for um perito em catalogar flores exóticas, suas chances de estabelecer uma renda garantida (ou seja, um emprego) serão bem menores do que se você for um perito em fazer refeições deliciosas, pela simples razão de que mais gente se alimenta – e o faz todos os dias – do que consulta flores exóticas em um catálogo.

Os outros dois são a abrangência e a permanência. Mas só falaremos sobre eles no próximo texto, por uma razão que você entenderá quando lá chegarmos.

Autoridade:

O conhecimento edifica a autoridade. Seria esta razão suficiente para você?

Intermédio:

Todo o conhecimento pode ser considerado um intermediário. É possível que você goste de estampas, por exemplo, ainda que não use esse conhecimento para nada. Você simplesmente gosta tanto do prazer que sente ao olhar padrões coloridos em tecidos que dedica parte do seu tempo para adquirir conhecimento nesse assunto. Nesse caso, esse conhecimento é um fim em si: você gosta disso e pronto.

Mas não há dúvidas que se a vida o surpreender com uma de suas peripécias e você se perceber sem uma fonte de renda, talvez possa usar esse conhecimento em uma atividade profissional. Você poderá ajudar pessoas que não entendem de estampas e não sabem combinar diferentes padrões de tecidos, seja na decoração de suas casas, seja no seu vestuário. Se antes era um fim em si, agora o conhecimento se transformou em um meio.

E a razão desse tijolo ter sido deixado para o final é essa: usar um ativo para obter outro é a essência do seu próximo passo, o texto Permuta e Sinergia, onde encerraremos essa bela jornada iniciada por você lá atrás, quando decidiu saber mais sobre uma tal de Única Condição

PARA ACABAR

Nunca se esqueça de que conhecimento deficiente pode restringir sua liberdade.

Por outro lado, ter consciência da realidade não apenas evitará ilusões, mas também impedirá que sua vida seja controlada por outras pessoas.

Lembre-se: suas escolhas, seu destino. Amplie seu conhecimento e ampliará sua liberdade.

Pois não acabamos de dizer que o conhecimento é infinito? De uma forma ou de outra, sempre haverá mais: Permuta e Sinergia.

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